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Controvérsia: suplementação com ômega-3 é realmente benéfica?

Controvérsia: suplementação com ômega-3 é realmente benéfica?NOVA IORQUE, EUAUm recente estudo publicado no periódico científico de grande pretígio Science questionou a importância da suplementação com ômega-3. Os autores do trabalho levantam a hipótese se realmente o ômega-3 tem efeito protetor em todo mundo, com base em dados coletados na população Inuit, moradora do Pólo Norte.

Entenda o estudo

Os povos Inuit são moradores do Ártico, região do globo conhecida pelo seu intenso frio e escassez de alimentos frescos. Ao longo dos séculos, esses povos se adaptaram a consumir grande quantidade de peixes, focas e baleias. Apesar de sua dieta rica em gorduras, a taxa de infarto nessa população é baixa.

Na década de 70, pesquisadores dinamarqueses propuseram que o ômega-3 encontrado nos peixes de águas frias tinha efeito protetor cardíaco, reduzindo o risco de doenças cardiovasculares. Isso levou ao consumo da suplementação de ômega-3 na forma de pílulas e até mesmo em alimentos enriquecidos com esse ácido graxo.

O atual estudo publicado na revista Science mostra que na verdade os povos Inuit desenvolveram, ao longo dos séculos, mecanismos genéticos capazes de metabolizar o excesso de ômega-3 consumido nos alimentos. O autor do estudo e geneticista Ramus Nielsen, da Universidade da California em Berkeley, levanta a questão se realmente o excesso de ômega-3 exerce algum efeito protetor do coração.

Controvérsia: suplementação com ômega-3 é realmente benéfica?Essa diferença no metabolismo é responsável por uma variação em um conjunto de genes que produzem enzimas chamadas de ácidos graxos desaturases. Essa variação é muito frequente na população Inuit, mas pouco frequente em europeus ou chineses. A diferença genética faz com que o excesso de ômega-3 seja metabolizado mais rapidamente, de forma que a concentração de ácidos graxos no sangue seja controlada. Segundo Marit E. Jorgensen, outro autor do estudo da Universidade da Dinamarca, esse conjunto de genes neutralizaria os possíveis efeitos benéficos do ômega-3.

Além de um metabolismo diferenciado, pessoas com esses genes são, no geral, 3 cm menores e cerca de 5 kg mais magras.

A controvérsia da suplementação de ômega-3

Em uma meta-análise publicada na revista médica Journal of the American Medical Society (JAMA) em 2012, o pesquisador Evangelos Rizos analisou 20 estudos randomizados com total de 68680 pacientes e concluíram que suplementação com ômega-3 não tem efeitos significativos na redução do risco de acidente vascular cerebral e infarto. Contudo, o mesmo estudo identificou redução de 10% no risco de morte por outras causas cardíacas.

 Controvérsia: suplementação com ômega-3 é realmente benéfica?O efeito benéfico do ômega-3 e outros ácidos graxos poliinsaturados é indiscutível. Nosso corpo não produz essas gorduras naturalmente e elas são parte importante da composição das membranas das células e do sistema nervoso central. O que se questiona é sua habilidade de prevenir doenças cardíacas, infarto, declínio cognitivo e até depressão.
Um editorial da revista científica Nature, publicado em 2012, apontou que a suplementação com ômega-3 pode ser benéfica para algumas pessoas e ter nenhum efeito em outras. Essas variações individuais são difíceis de serem medidas em estudos clínicos.
Devemos ou não suplementar nossa dieta com pílulas de ômega-3? Muitos médicos e cientístas concordam que a melhor opção é consumir peixes oleosos como salmão e atum, e estudos apontam que o consumo de peixes reduz riscos de desenvolver doenças crônicas, como diabetes e doença de Alzheimer. Se a pessoa, entretanto, não consome ômega-3 oriundo de peixes ou outras fontes, a suplementação com pílulas e alimentos enriquecidos pode ser uma boa ideia. Segundo o cardiologista da Universidade de Harvard, Dr. Mozaffarian, em entrevista à revista Nature, é melhor consumir alguma fonte de ômega-3 (mesmo que em pílulas) do que nenhuma.

21 de setembro de 2015. Texto escrito por exto escrito por Matheus Malta de Sá (farmacêutico, USP). Fontes: New York Times, Science, JAMA, Nature. Fotos: Fotolia.com.

 

Observação da redação: este artigo foi modificado em 14.10.2015

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