NOVA IORQUE, EUA – Um recente estudo publicado no periódico científico de grande pretígio Science questionou a importância da suplementação com ômega-3. Os autores do trabalho levantam a hipótese se realmente o ômega-3 tem efeito protetor em todo mundo, com base em dados coletados na população Inuit, moradora do Pólo Norte.
Entenda o estudo
Os povos Inuit são moradores do Ártico, região do globo conhecida pelo seu intenso frio e escassez de alimentos frescos. Ao longo dos séculos, esses povos se adaptaram a consumir grande quantidade de peixes, focas e baleias. Apesar de sua dieta rica em gorduras, a taxa de infarto nessa população é baixa.
Na década de 70, pesquisadores dinamarqueses propuseram que o ômega-3 encontrado nos peixes de águas frias tinha efeito protetor cardíaco, reduzindo o risco de doenças cardiovasculares. Isso levou ao consumo da suplementação de ômega-3 na forma de pílulas e até mesmo em alimentos enriquecidos com esse ácido graxo.
O atual estudo publicado na revista Science mostra que na verdade os povos Inuit desenvolveram, ao longo dos séculos, mecanismos genéticos capazes de metabolizar o excesso de ômega-3 consumido nos alimentos. O autor do estudo e geneticista Ramus Nielsen, da Universidade da California em Berkeley, levanta a questão se realmente o excesso de ômega-3 exerce algum efeito protetor do coração.
Além de um metabolismo diferenciado, pessoas com esses genes são, no geral, 3 cm menores e cerca de 5 kg mais magras.
A controvérsia da suplementação de ômega-3
Em uma meta-análise publicada na revista médica Journal of the American Medical Society (JAMA) em 2012, o pesquisador Evangelos Rizos analisou 20 estudos randomizados com total de 68680 pacientes e concluíram que suplementação com ômega-3 não tem efeitos significativos na redução do risco de acidente vascular cerebral e infarto. Contudo, o mesmo estudo identificou redução de 10% no risco de morte por outras causas cardíacas.
Um editorial da revista científica Nature, publicado em 2012, apontou que a suplementação com ômega-3 pode ser benéfica para algumas pessoas e ter nenhum efeito em outras. Essas variações individuais são difíceis de serem medidas em estudos clínicos.
Devemos ou não suplementar nossa dieta com pílulas de ômega-3? Muitos médicos e cientístas concordam que a melhor opção é consumir peixes oleosos como salmão e atum, e estudos apontam que o consumo de peixes reduz riscos de desenvolver doenças crônicas, como diabetes e doença de Alzheimer. Se a pessoa, entretanto, não consome ômega-3 oriundo de peixes ou outras fontes, a suplementação com pílulas e alimentos enriquecidos pode ser uma boa ideia. Segundo o cardiologista da Universidade de Harvard, Dr. Mozaffarian, em entrevista à revista Nature, é melhor consumir alguma fonte de ômega-3 (mesmo que em pílulas) do que nenhuma.
21 de setembro de 2015. Texto escrito por exto escrito por Matheus Malta de Sá (farmacêutico, USP). Fontes: New York Times, Science, JAMA, Nature. Fotos: Fotolia.com.