FLÓRIDA, EUA – O efeito do cérebro em outras partes do corpo é algo que há muito tempo foi estabelecido. Agora, um grupo de pesquisadores da Universidade de Flórida descobriu que o corpo também influencia no comportamento do cérebro: a gordura corporal pode enviar sinais que afetam a maneira como o cérebro lida com o estresse e o metabolismo.
O estudo em detalhe
A pesquisa foi publicada na revista científica Psychoneuroendocrinology, na edição de junho de 2015. Embora a natureza exata destes sinais e o mecanismo de ação ainda não sejam inteiramente conhecidos, os pesquisadores dizem que tal caminho existe e é necessário conhecer mais a respeito para quebrar um famoso ciclo vicioso: o estresse provoca o desejo de comer mais, o que pode levar à obesidade. A gordura extra, por sua vez, pode prejudicar a capacidade do corpo em enviar sinais de saciedade para o cérebro e desligar a resposta ao stress.
Segundo James Herman, um dos autores da pesquisa e professor do Departamento de Psiquiatria e Neurociências da Universidade de Cincinnati, os resultados são importantes e únicos, pois eles mostram que não é simplesmente o cérebro que comanda a forma como o corpo responde ao stress.
Os pesquisadores citam a importância de incluir outras partes do corpo, e não só o cérebro, no controle das emoções e do comportamento. Esse estudo sugere que o metabolismo, por exemplo, exerce um efeito muito maior do que se pensava anteriormente e que o conteúdo de gordura corporal tem papel importante nas funções cerebrais e comportamentais.
Os pesquisadores descobriram que um receptor glicocorticoide no tecido adiposo pode afetar a maneira como o cérebro controla o stress e o metabolismo. Inicialmente, sinais propagados pelo receptor podem agir como salva-vidas, direcionando o cérebro para regular o balanço de energia e influenciar as respostas ao stress de uma forma benéfica, ajudando o corpo a lidar com ele.
Os pesquisadores descobriram que os hormônios esteroides conhecidos como glicocorticoides ativam os receptores no tecido adiposo de uma maneira que afeta um componente principal da resposta ao stress metabólico. Usando modelos de ratos, os cientistas encontraram uma ligação única entre a sinalização no tecido adiposo e a resposta do cérebro ao stress e metabolismo. Entender esse mecanismo em detalhes é de suma importância, pois isso pode ajudar a combater a epidemia global de obesidade.
Os cientistas querem agora entender os detalhes dessa sinalização gordura-cérebro para poder interromper esse ciclo que leva ao consumo excessivo de alimentos, sobretudo os ricos em gordura e açúcar.
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02 de Agosto de 2015. Texto escrito por Matheus Malta de Sá (farmacêutico USP). Fontes: News University of Florida. Fotos: Fotolia.com.