NOVA YORK, EUA – O ácido acetilsalicílico é uma molécula versátil que tem sido estudada em diversas doenças. Além das suas propriedades anti-inflamatórias, esse composto também é usado para prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares, incluindo acidente vascular cerebral e infarto. Há algum tempo já se sabia que essa molécula também tem efeito benéfico no combate a doenças neurodegenerativas. Um estudo recente feito pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, identificou a possível ação do ácido acetilsalicílico no corpo.
O papel da aspirina nas doenças neurodegenerativas
O estudo foi publicado na edição de novembro da revista científica PLOS ONE e descobriu que um componente da aspirina se liga a uma enzima chamada GAPDH, que parece desempenhar um papel importante em doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer, de Parkinson e doença de Huntington.
Pesquisadores do Instituto Boyce Thompson e John Hopkins University descobriram que o ácido salicílico, o produto de decomposição primária de aspirina, se liga ao GAPDH, interrompendo sua movimentação para o núcleo da célula, onde ele pode provocar morte celular. O estudo lança bases importantes para o entendimento dos mecanismos patofisiológicos das doenças neurodegenerativas, e pode fornecer dados promissores sobre o tratamento de tais condições.
Um dos autores do estudo, o pesquisador e professor sênior Daniel Klessig da Boyce Thompson Institute e da Universidade de Cornell, tem estudado as ações de ácido salicílico por muitos anos, mas principalmente em plantas. No reino vegetal, ácido salicílico é um hormônio crítico para a regulação do sistema imunológico da planta. Estudos anteriores já haviam identificado vários alvos em plantas que são afetados por ácido salicílico, sendo que muitas dessas proteínas têm equivalentes em humanos.
Dentro da célula, o GAPDH (sigla para gliceraldeído-3-fosfato-desidrogenase), desempenha papeis no metabolismo da glicose, nutriente essencial para as células nervosas. Em situações de lesão celular, como no estresse oxidativo, o GAPDH é modificado de forma a entrar no núcleo das células e aumentar a rotatividade de proteínas, levando à morte celular. Essa morte resulta no aparecimento de doenças como Alzheimer ou Parkinson.
Além de entender esse mecanismo de geração da doença, o novo estudo mostra que drogas derivadas da aspirina têm efeito benéfico na prevenção da morte neuronal. Os pesquisadores também verificaram que um derivado natural do ácido salicílico originário planta medicinal alcaçuz e um derivado sintético se ligam ao GAPDH mais fortemente que o próprio ácido salicílico, impedindo o movimento dessa proteína para o núcleo celular.
Outros alvos celulares para o ácido salicílico também foram identificados, como a proteína HMGB1 (do inglês, High Mobility Group Box 1) que causa inflamação e está associada a diversas doenças, incluindo artrite, lúpus, sepse, aterosclerose e certos tipos de câncer. Os baixos níveis de ácido salicílico bloqueia estas atividades pró-inflamatórias, e os derivados de ácido salicílico acima mencionados são 40 a 70 vezes mais potente na inibição dessas ações.
As doenças neurodegenerativas no Brasil e no mundo
Normalmente associadas à idade, as doenças neurodegenerativas têm se tornado mais prevalentes devido ao envelhecimento da população mundial. De acordo com a organização sem fins lucrativos Alzheimers Disease’s International, em 2040 serão cerca de 135 milhões de casos de demência no mundo, cerca de 44 milhões de casos a mais que temos atualmente.
No Brasil, os dados não são precisos, mas assim como no resto do mundo, a tendência é que o número de pessoas com alguma doença neurodegenerativa aumente com o envelhecimento da população.
01 de dezembro de 2015. Texto escrito por Matheus Malta de Sá (farmacêutico, USP). Fontes: Plos.org, WHO.org. Fotos: Fotolia.com