NASHVILLE, TENNESSEE, EUA – A obesidade infantil é um problema crescente na sociedade moderna, tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento. Um estudo recente da Universidade de Vanderbilt Medical Center mostrou que o cérebro de crianças que são obesas funciona de forma diferente do cérebro das crianças com peso saudável, apresentando um desequilíbrio entre a “procura” e a “recusa” de alimentos.
A combinação de dieta alimentar e exercícios físicos pode não ser suficiente para restaurar o peso normal ou prevenir que crianças com sobrepeso se tornem obesas, concluem os pesquisadores. Talvez seja necessário mudar como o cérebro funciona nesses pacientes.
O estudo em detalhes
“Os adultos e também as crianças, estão preparados para comer mais”, disse o autor sênior do estudo Dr. Kevin Niswender. “Isso é ótimo do ponto de vista evolutivo. Entretanto, no mundo de hoje, essa prática acaba por colocar as crianças em risco de obesidade, uma vez que alimentos ricos em energia estão cada vez mais disponíveis.”
O co-autor do estudo, o pesquisador sênior Ronan Cowan, afirma que a prática de pensar ativamente no que se está comendo e nas necessidades do corpo poderia recalibrar o desequilíbrio nas conexões do cérebro associadas com a obesidade infantil.
A obesidade infantil nos Estados Unidos quase dobrou durante os últimos 30 anos, e entre adolescentes triplicou. Em 2010, um terço das crianças norte-americanas foram considerados obesas ou com sobrepeso.
O estudo incluiu 38 crianças, cinco consideradas obesas e seis que estavam com sobrepeso. Seus comportamentos alimentares foram avaliados através de um questionário, e a função cerebral foi avaliada usando ressonância magnética nuclear (RMN).
Três regiões do cérebro de adultos são potentes moduladores dos hábitos alimentares: o núcleo accumbens, associado a comportamentos motivados por recompensa; o polo frontal, associado com a impulsividade; e o lobo parietal inferior, associado com a inibição de respostas ou a anulação excessos. Os pesquisadores utilizaram RMN para determinar o equilíbrio de conectividade neural entre essas regiões.
Eles descobriram que, com o aumento de peso entre as crianças, a conectividade entre os impulsos inibitórios do lobo parietal inferior e os impulsos de recompensa do núcleo accumbens diminui, enquanto a conectividade entre o núcleo accumbens e o polo frontal associado à impulsividade, aumenta.
Isto sugere que a obesidade em si e comportamentos alimentares pouco saudáveis poderiam refletir um desequilíbrio na conectividade de áreas do cérebro associadas com inibição de respostas, impulsividade e recompensa.
A prática da atenção plena pode aumentar os impulsos inibitórios e diminuir os de recompensa e impulsividade. Os pesquisadores notaram que em adultos, essa prática apresentou resultados variados, reforçando a ideia da perda da plasticidade cerebral com o passar da idade. Isso apoia a importância da identificação precoce de crianças em risco de obesidade, bem como a necessidade de desenvolver novos métodos para tratar e prevenir essa epidemia.
A obesidade infantil no Brasil
O Brasil apresenta dados preocupantes sobre a obesidade. De acordo com um levantamento feito em 2015 pelo Ministério da Saúde, em 15 anos o país pode se tornar um dos mais obesos do mundo. O estudo revelou que 32,3% das crianças menores de 2 anos tomam refrigerantes, comem biscoitos e produtos industrializados como bolos prontos. Com relação a obesidade, a pesquisa mostrou que 16,6% dos meninos são obesos, ao passo que 11,8% das meninas atingem essa marca.
Além disso, dados mostram que de 30 a 45% dos pais não sabem reconhecer quando os filhos estão com sobrepeso, o que atrasa a tomada de alguma decisão para reverter o quadro. Médicos, nutricionistas e educadores físicos aconselham que pais e professores fiquem atentos à dieta das crianças e que as ensinem a cultivar hábitos alimentares e de vida saudáveis.
01 de fevereiro de 2016. Texto escrito por Matheus Malta de Sá (farmacêutico, USP). Fontes: Vanderbilt University Medical Center Reporter, Ministério da Saúde. Fotos: Fotolia.com