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Antidepressivo pode reduzir risco de internação por Covid em mais de 30%

SÃO PAULO Um novo estudo publicado em 27 de outubro de 2021 na Lancet Global Health (DOI: 10.1016/S2214-109X(21)00448-4) mostrou que a fluvoxamina foi capaz de reduzir as admissões hospitalares em pacientes Covid-19 com risco de formas graves em uma média de pouco mais de 30%. A fluvoxamina (no Brasil: no Maleato de fluvoxamina Abbott e Luvox1 é tomada no início dos sintomas da Covid-192, por isso age como uma terapia, não como uma prevenção (o estudo não olhou para seu uso preventivo). No Brasil, os medicamentos com fluvoxamina só são vendidos com receita médica e o uso contra a Covid-19 só deve ser feito com orientação médica. 

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Estudo Canadá-Brasileiro

Os autores do estudo realizaram testes em 11 cidades de Minas Gerais no Brasil para avaliar se o medicamento impede a hospitalização de pacientes Covid-19 que o recebem precocemente. Os pesquisadores trabalharam com um grupo de 1.497 brasileiros não vacinados, com teste PCR positivo para a doença. O estudo envolveu mais de 700 pacientes tomando fluvoxamina, comparado a um número equivalente de pacientes com placebo, e sem que os cuidadores soubessem qual tratamento eles estavam administrando (duplo-cego). Esses pacientes tinham pelo menos um fator de risco: ter mais de 50 anos, fumar, ter diabetes ou não estar sendo vacinados. A idade média dos participantes foi de 50 anos, e 58% eram do sexo feminino. 

Resultados

Os pesquisadores descobriram que pacientes que receberam fluvoxamina tinham 32% menos chances de serem hospitalizados do que aqueles do grupo placebo (que não receberam o antidepressivo). Para pacientes que seguiram exatamente as recomendações – em inglês isto é chamado de per-protocol population3 – tomando fluvoxamina (100 mg duas vezes ao dia) ou placebo por pelo menos 8 dias durante um período de tratamento de 10 dias reduziu as admissões hospitalares em 66% e a mortalidade em 91% com 1 morte no grupo fluvoxamina e 12 mortes no grupo placebo. Esta é mais ou menos a mesma taxa de redução de mortalidade das vacinas Covid-19 messenger RNA. O professor Edward Mills da Universidade McMaster no Canadá é um dos autores do estudo. Os resultados apresentados em 27 de outubro de 2021 foram tão significativos que o comitê de monitoramento dos dados do estudo decidiu parar a pesquisa, pois não havia mais nenhum benefício em continuar o estudo4.

Comentários

Em artigo publicado no periódico, o pesquisador Otavio Berwanger, do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, ressaltou a importância do estudo, mas advertiu que mais ensaios devem ser feitos antes do uso consistente no tratamento da Covid-195.

Possível mecanismo

A fluvoxamina é um antidepressivo, mas também é um antiinflamatório. Inflamação e reação exagerada do sistema imunológico são características da grave infecção por Covid, o que pode explicar porque ela parece ser útil.

Outros estudos sobre a fluvoxamina

Outros pequenos estudos publicados no final de 2020 e 2021 mostraram a possível eficácia da fluvoxamina contra a Covid-196. Estes incluem um estudo publicado no JAMA (DOI: 10.1001/jama.2020.22760) em novembro de 2020 no qual 80 pacientes receberam fluvoxamina imediatamente após serem diagnosticados com Covid-19 e 72 receberam um placebo após o diagnóstico7. No grupo que recebeu fluvoxamina, nenhum dos pacientes sofreu dos sintomas típicos da Covid-19, como falta de ar ou pneumonia, enquanto que 6 participantes do grupo placebo sofreram. Em outro chamado estudo observacional publicado em fevereiro de 2021 no Open Forum Infectious Diseases (DOI: 10.1093/ofid/ofab050) 65 pessoas escolheram receber fluvoxamina (50 mg duas vezes ao dia) e 48 recusaram. Após 2 semanas, ninguém tomando fluvoxamina foi hospitalizado, enquanto 6 das 48 pessoas que não tomavam o medicamento foram hospitalizadas. Após 14 dias, os sintomas residuais persistiram em nenhuma das 65 pessoas tratadas com fluvoxamina e 60% (29 de 48) das pessoas sob observação.

Outros antidepressivos sob investigação

O professor Edward Mills explicou ao Wall Street Journal em 287 de outubro de 2021 que outros antidepressivos da mesma família (SSRIs), como a fluoxetina, poderiam ter o mesmo efeito positivo sobre a Covid-19. Atualmente estão sendo feitos estudos.

Fontes e Referências: 
Fontes: 
Anvisa, CNN USA, Pharmawiki.ch, Compendium.ch, [email protected] (jornal dos farmacêuticos da Universidade da Basiléia, Suíça), The Wall Street Journal, Keystone-ATS, Wired.
Literatura:
“100 wichtige Medikamente” – Infomed (2020)
Referências de estudo:
Lancet Global Health (DOI: 10.1016/S2214-109X(21)00448-4), JAMA (DOI: 10.1001/jama.2020.22760), Open Forum Infectious Diseases (DOI: 10.1093/ofid/ofab050).

Escrito por Xavier Gruffat (Farmacêutico), última atualização: 28.10.2021 (V.1.1). Créditos das fotos: Fotolia.com/Adobe Stock

Bibliografia e referências científicas:

  1. Anvisa.gov
  2. CNN, 28 de outubro de 2021 – Cheap, generic anti-depressant may reduce severe Covid-19 disease, study finds
  3. Effect of early treatment with fluvoxamine on risk of emergency care and hospitalisation among patients with COVID-19: o ensaio clínico de plataforma aleatório TOGETHER
  4. The Wall Street Journal, 27 de outubro de 2021
  5. R7.com, 28.10.2021
  6. The Wall Street Journal, 27 de outubro de 2021
  7. CNN, 28 de outubro de 2021 – Um antidepressivo genérico barato pode reduzir a doença grave da Covid-19, o estudo encontra
Observação da redação: este artigo foi modificado em 28.10.2021

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