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Conheça os benefícios e usos do carvão ativado

O carvão ativado já é um velho conhecido no tratamento de intoxicações, seja de envenenamentos, overdose de drogas, medicamentos ou intoxicações alimentares. Seu efeito desintoxicante ocorre devido à capacidade de se ligar a substâncias, evitando sua absorção no organismo.

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Nos últimos tempos, o carvão ativado tem ganhado popularidade, prometendo benefícios como a redução de colesterol, emagrecimento, eliminação de gases, clareamento dental e até cura de ressacas. No entanto, esses usos são realmente seguros? Existem evidências científicas que comprovam sua eficácia?

Nós do Criasaude mergulhamos a fundo nas pesquisas científicas para trazer as informações mais confiáveis a respeito do carvão ativado.

O que é o carvão ativado?

O carvão ativado, ou carvão vegetal ativado, não é o mesmo que o carvão usado em churrascos. Embora ambos possam ter como base madeira ou coco, o carvão de churrasco contém substâncias tóxicas e não passa pelo mesmo tratamento que o carvão ativado.

O carvão ativado é submetido a altas temperaturas e um tratamento com oxigênio, o que diminui seu tamanho, aumenta sua porosidade e área de superfície. O resultado é um pó preto altamente poroso e com carga negativa, que se liga a diversas substâncias, como toxinas e gases1.

Como o carvão ativado age em nosso organismo?

O carvão ativado não é absorvido pelo nosso organismo, ele age ligando-se a substâncias (toxinas, bactérias, etc) líquidas ou gasosas que estão em nosso trato gastrointestinal (estômago e intestino), eliminando-as através das fezes antes que elas sejam absorvidas por nosso organismo2.

Embora muitas toxinas tenham sua absorção diminuída na presença de carvão ativado, algumas substâncias, como álcool, metais (ferro e lítio), eletrólitos (magnésio, potássio, sódio) e ácidos ou bases, não se ligam bem a ele.
O que é positivo no caso de eletrólitos, pois o organismo precisa absorvê-los para funcionar adequadamente3.

Usos do carvão ativado

O carvão ativado tem potenciais benefícios para a saúde e o meio ambiente. No entanto, muitos estudos que embasam seu uso são antigos e requerem revisão, e alguns resultados são controversos, portanto, devemos tomar cuidado com indicações de internet.

O uso do carvão ativado para ingestão deve ser sempre acompanhado por especialistas (equipe médica ou profissionais de saúde qualificados).

Tratamento de intoxicação

O carvão ativado é usado desde os anos 1800 para tratar envenenamento e overdose, pois pode se ligar a uma variedade de drogas, reduzindo seus efeitos. Ele é mais efetivo quando utilizado imediatamente (até 1h) após a ingestão da substância tóxica, mas ainda é eficaz quando utilizado em até 4 horas. Apesar de ser a substância mais utilizada em casos de intoxicação, não é recomendada para todas as situações, como intoxicações por álcool ou metais pesados. O uso deve ser sempre supervisionado por profissionais de saúde4.

Além de diminuir a absorção de drogas, alguns estudos indicam que o carvão ativado pode ainda ajudar na eliminação de drogas e medicamentos já absorvidos ou administrados intravenosamente5.

Tratamento de diarreias

A diarreia pode ser causada por infecções, síndrome do intestino irritável, uso de medicamentos e outras condições. Na maioria das vezes, não requer tratamento, mas em casos mais graves, o carvão ativado pode ajudar a eliminar substâncias e toxinas causadoras, além de aliviar os desconfortos6.

Alívio de gases intestinais

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Brasil), reconhece seu efeito na absorção de gases7, porém não há uma indicação específica para gases intestinais.

A opinião de especialistas diverge em relação a sua eficácia para esse fim. Na opinião do médico de emergência Dr. Seth Podolsky existem outros remédios que são mais seguros e melhor tolerados a longo prazo para tratar casos de gases e estufamento8. Já a nutricionista Lori Chong da Medicina Familiar e Medicina Integrativa da Ohio State University recomenda o uso do carvão ativado para diminuição de gases em casos específicos e sempre com o acompanhamento médico do tratamento9.

Os estudos científicos mais antigos dizem que o carvão ativado não tem efeito em diminuir os gases intestinais10. Já os estudos mais recentes, como o de 2020, apontam para sua eficácia na diminuição dos gases intestinais11.

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Portanto, apesar de ainda serem necessários mais estudos, é possível dizer que o carvão ativado pode ser utilizado para diminuir gases intestinais, mas não são para todas as pessoas ou qualquer situação. Seu uso sempre deve ser feito sob acompanhamento de especialistas.

Pode reduzir o colesterol

Pesquisas sugerem que o carvão ativado pode reduzir os níveis de colesterol total e LDL ao se ligar ao colesterol no intestino, prevenindo sua absorção. No entanto, esses estudos são antigos e mais pesquisas são necessárias para validar esses resultados12.

Um dos estudos ainda aponta para um aumento da síntese de colesterol após o tratamento com carvão ativado, provavelmente causado pela interferência com a circulação enteral hepática dos ácidos biliares13.

As agências reguladoras de medicamentos do Brasil (ANVISA) e Estados Unidos (FDA), não possuem aprovação para o uso do carvão ativado para esse fim.

Outros possíveis usos do carvão ativado

Pode auxiliar na função renal, especialmente em pessoas com doença renal crônica. O carvão ativado pode promover a função renal ao reduzir o número de resíduos que os rins precisam filtrar, sendo benéfico para pessoas com doença renal crônica14.

Pode auxiliar na Síndrome do odor de peixe (trimetilaminúria). O carvão ativado pode ajudar a reduzir odores desagradáveis em pessoas com trimetilaminúria (TMAU), uma condição genética que causa acúmulo de trimetilamina (TMA), substância com cheiro de peixe podre, no corpo15.

Branqueamento dos dentes. Não há estudos que comprovem o efeito do carvão ativado para o branqueamento dos dentes16. Alguns estudos até apontam para sua ineficácia ou risco de desgaste do esmalte dental17.

Prevenção de ressaca. O carvão ativado é às vezes considerado um remédio para ressaca. No entanto, essa substância não absorve o álcool de forma eficaz, tornando esse benefício muito improvável18.

Emagrecimento. Não há estudos científicos que embasam o uso do carvão ativado para esse fim.

Curativo de feridas e tratamentos para pele. A aplicação do carvão ativado na pele é mencionada como um tratamento para acne, caspa e picadas de insetos ou cobras. No entanto, quase não há evidências que sustentem essas afirmações19. Mas existem indicações do seu possível uso combinado com prata coloidal em curativos de feridas,20.

Eliminar poluentes da água e ar. Em relação ao meio ambiente ele pode ser aplicado no controle da emissão de gases poluentes e no tratamento de águas ( residuais e para consumo), removendo substâncias tóxicas como inseticidas, herbicidas, metais pesados e fenóis21.

Segurança, riscos e efeitos adversos

O carvão ativado é geralmente seguro, mas pode causar reações adversas raras, como língua e fezes pretas, vômitos, diarreia e constipação. Ele também pode interagir com medicamentos, diminuindo sua eficácia, por isso é fundamental consultar um médico antes do uso22.

A Academia Americana de Toxicologia Clínica desaconselha seu uso em casos de sangramentos ou perfurações no trato gastrointestinal. Quando usado como antídoto, deve ser administrado apenas a pessoas conscientes, pois pode entrar nos pulmões se a pessoa estiver sonolenta ou vomitar.

Formas farmacêuticas

O carvão ativado está disponível em diversas formas, incluindo pó, comprimidos e cápsulas, além de adicionado em cosméticos e pasta de dente. Ele também pode ser encontrado em formas não farmacêuticas, como alimentos e filtros de água e ar.

Referências e fontes:
– European Scientific Journal
– ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Brasil)
– Pubmed
– Jornal da USP

Redação:
Adriana Sumi (farmacêutica)

Data da última atualização do artigo:
30.10.2024 (primeira publicação)

Créditos fotográficos:
Criasaude.com.br, Adobe Stock, © 2024 Pixabay
Créditos dos infográficos: Pharmanetis Sàrl (Crisaude.com.br)

Bibliografia e referências científicas:

  1. Alkhatib, A. J., & Al Zailaey, K. (2015). Medical and environmental applications of activated charcoal: Review article. European Scientific Journal, 11(3).
  2. Silberman, J., Galuska, M. A., & Taylor, A. (2023, 26 de abril). Activated charcoal. NIH National Library of Medicine
  3. Villarreal J, Kahn CA, Dunford JV, Patel E, Clark RF. A retrospective review of the prehospital use of activated charcoal. Am J Emerg Med. 2015 Jan;33(1):56-9. doi: 10.1016/j.ajem.2014.10.019. Epub 2014 Oct 22.
  4. JÜRGENS, G.; HOEGBERG, L. C. G.; GRAUDAL, N. A. The Effect of Activated Charcoal on Drug Exposure in Healthy Volunteers: A Meta-Analysis. Clinical Pharmacology & Therapeutics, v. 85, n. 1, p. 1-8, 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1038/clpt.2008.278.
  5. Skov K, Graudal NA, Jürgens G. The effect of activated charcoal on drug exposure following intravenous administration: A meta-analysis. Basic Clin Pharmacol Toxicol. 2021 Apr;128(4):568-578. doi: 10.1111/bcpt.13553. Epub 2021 Jan 21
  6. Senderovich H, Vierhout MJ. Is there a role for charcoal in palliative diarrhea management? Curr Med Res Opin. 2018 Jul;34(7):1253-1259. doi: 10.1080/03007995.2017.1416345. Epub 2018 Jan 10. PMID: 29231746.
  7. Ministério da Saúde, agosto de 2013. Nota Técnica N° 275/2013: Carvão vegetal ativado. Consultoria Jurídica/Advocacia Geral da União. Brasília, Brasil
  8. Artigo em inglês da Cleveland Clinic. Is It Safe to Take Charcoal Pills for Gas and Bloating?, publicado em março de 2018, acessado pelo Criasaude em outubro de 2024, link funcionando nesta data
  9. Artigo publicado online pelo The Ohio State University, What to know about that activated charcoal trend, em 18 de setembro de 2017, acessado pelo Criasaude em outubro de 2024, link funcionando nesta data
  10. Timothy Potter, Carol Ellis, Michael Levitt,
    Activated charcoal: In vivo and in vitro studies of effect on gas formation, Gastroenterology,
    Volume 88, Issue 3, 1985, Pages 620-624,ISSN 0016-5085, https://doi.org/10.1016/0016-5085(85)90129-5.
  11. Jain NK, Patel VP, Pitchumoni CS. Efficacy of activated charcoal in reducing intestinal gas: a double-blind clinical trial. Am J Gastroenterol. 1986 Jul;81(7):532-5
  12. Kuusisto P, Vapaatalo H, Manninen V, Huttunen JK, Neuvonen PJ. Effect of activated charcoal on hypercholesterolaemia. Lancet. 1986 Aug 16;2(8503):366-7. doi: 10.1016/s0140-6736(86)90054-1. PMID: 2874369.
  13. Neuvonen PJ, Kuusisto P, Vapaatalo H, Manninen V. Activated charcoal in the treatment of hypercholesterolaemia: dose-response relationships and comparison with cholestyramine. Eur J Clin Pharmacol. 1989;37(3):225-30. doi: 10.1007/BF00679774.
  14. Musso CG, Michelangelo H, Reynaldi J, Martinez B, Vidal F, Quevedo M, Parot M, Waisman G, Algranati L. Combination of oral activated charcoal plus low protein diet as a new alternative for handling in the old end-stage renal disease patients. Saudi J Kidney Dis Transpl. 2010 Jan;21(1):102-4. PMID: 20061701.
  15. Yamazaki H, Fujieda M, Togashi M, Saito T, Preti G, Cashman JR, Kamataki T. Effects of the dietary supplements, activated charcoal and copper chlorophyllin, on urinary excretion of trimethylamine in Japanese trimethylaminuria patients. Life Sci. 2004 Apr 16;74(22):2739-47. doi: 10.1016/j.lfs.2003.10.022
  16. Brooks JK, Bashirelahi N, Hsia RC, Reynolds MA. Charcoal-based mouthwashes: a literature review. Br Dent J. 2020 Feb;228(4):290-294. doi: 10.1038/s41415-020-1265-8.
  17. Artigo publicado online no Jornal da USP em 17 de dezembro de 2021. Cúrcuma, casca de banana e carvão ativado são ineficazes para clareamento dental, comprova estudo. Por Vitória Pierre. Link acessado em outubro de 2024 pelo Criasaude, link funcionando nesta data.
  18. Silberman, J., Galuska, M. A., & Taylor, A. (2023, 26 de abril). Activated charcoal. NIH National Library of Medicine
  19. Sanchez N, Fayne R, Burroway B. Charcoal: An ancient material with a new face. Clin Dermatol. 2020 Mar-Apr;38(2):262-264. doi: 10.1016/j.clindermatol.2019.07.025. Epub 2019 Jul 31.
  20. Kerihuel, J. C. Effect of activated charcoal dressings on healing outcomes of chronic wounds. Journal of Wound Care, 19(5), 2013. https://doi.org/10.12968/jowc.2010.19.5.48047.
  21. MOHAMMAD-KHAH, A.; ANSARI, R. Activated Charcoal: Preparation, characterization and Applications: A review article. International Journal of ChemTech Research, v. 1, n. 4, p. 859-864, out./dez. 2009. ISSN 0974-4290
  22. Artigo em inglês da Cleveland Clinic. Is It Safe to Take Charcoal Pills for Gas and Bloating?, publicado em março de 2018, acessado pelo Criasaude em outubro de 2024, link funcionando nesta data
Observação da redação: este artigo foi modificado em 30.10.2024

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