MELBOURNE – Um estudo australiano publicado em outubro de 2013, demonstrou uma eficácia significativa da kava kava contra a ansiedade e, em particular, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), um termo que descreve um estado quase permanente de ansiedade ou ansiedade crônica. A kava kava (Piper methysticum), também conhecida como cava-cava, kawa-kawa ou kava, é uma planta conhecida na fitoterapia para tratar a ansiedade. Outros estudos demonstraram, pelo menos parcialmente, a sua eficácia para esta indicação, mas não em casos de TAG em comparação ao placebo.
A kava kava é uma planta originária principalmente das ilhas do sul do Oceano Pacífico (por exemplo Vanatu), a parte mais utilizada da planta é o rizoma. Os povos das ilhas do Pacífico utilizam esta planta em forma de suco devido a suas propriedades sedativas e anestésicas. Esta planta pertence claramente à cultura local destas ilhas.
Portanto, talvez não seja uma coincidência que os pesquisadores australianos de Melbourne examinaram mais detalhadamente esta planta, dada a sua proximidade geográfica e cultural.
O estudo em detalhe
O estudo foi conduzido pelo Dr. Jerome (sem ênfase no artigo original) Sarris, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Melbourne (Department of Psychiatry – University of Melbourne) na Austrália. Foi publicado no Journal of Clinical Psychopharmacology.
Este estudo incluiu 75 pacientes com transtorno de ansiedade generalizada (em inglês: generalised anxiety disorder) e durou 8 semanas. Os participantes receberam kava kava ou placebo, chamados neste estudo de grupo kava e grupo placebo, respectivamente. Em cada grupo o nível de ansiedade de cada participante foi avaliado periodicamente.
No grupo kava, os participantes receberam dois comprimidos por dia de um extrato aquoso de kava kava, com uma dose total de 120mg de kavalactonas (princípios ativos da kava kava), durante as primeiras 3 semanas de estudo, chamada de primeira fase de controle. Para os participantes do grupo kava que não responderam (sem efeito), a dose foi duplicada durante a segunda fase do estudo, a partir da quarta até a sexta semana. O grupo placebo seguiu o mesmo modelo posológico que o grupo kava, sendo a única diferença é claro que em vez de receber um comprimido de kava kava, recebiam um medicamento placebo.
No final do estudo, os investigadores observaram uma redução significativa de ansiedade generalizada no grupo kava. De fato, 26 % dos participantes grupo kava viram os seus sintomas desaparecem, os investigadores utilizaram o termo remissão da doença, em comparação com apenas 6 % no grupo de placebo.
Efeitos colaterais
A equipe do Prof. Jerome Sarris também encontrou alguns pontos interessantes. Os pacientes com TAG moderada a grave se beneficiaram mais com os efeitos da kava kava, em comparação com aqueles com TAG suave.
Os cientistas não encontraram nenhum efeito colateral do tipo hepático (no fígado), que muitas vezes é utilizado como crítica no uso da kava kava. Na verdade, não houve diferença na função hepática entre o grupo kava e o placebo. O risco de efeitos secundários foi medido e aceitável. Não foi identificado risco de vício no grupo kava. Este último ponto é crucial, porque sabemos que os tratamentos convencionais utilizados contra o TAG muitas vezes causam dependência, que é particularmente o caso dos benzodiazepínicos.
No entanto, a Clínica Mayo, uma instituição americana famosa no campo de tratamentos alternativos, embora reconheça a sua eficácia provável ou comprovada contra a ansiedade e o estresse, possui restrições severas para o uso da kava kava, considerando que esta planta pode levar a problemas hepáticos graves. É por esta razão que esta planta não está disponível em alguns locais, especialmente na Europa. Também é importante notar que o estudo australiano incluiu apenas 8 semanas de tratamento, pode ser interessante efetuar um estudo a longo prazo, por exemplo, de 12 meses para identificar os efeitos secundários no fígado.
Ação sobre o desejo sexual feminino
O estudo também mostrou que as mulheres do grupo kava puderam desfrutar de um efeito benéfico sobre o desejo sexual. A suposição é que este não é um afrodisíaco, mas que a redução da ansiedade pode afetar indiretamente a sexualidade feminina.
A influência genética
O Dr. Sarris também observa um ponto muito interessante. Ele e sua equipe também encontraram diferenças no nível individual, cada paciente reagiu de forma diferente à kava kava. Parece que as diferenças genéticas em mecanismos neurobiológicos, chamados transportadores de GABA, podem desempenhar um papel-chave e, portanto, influenciar a resposta de cada indivíduo à kava kava. Ainda de acordo com o pesquisador, pode ser possível desenvolver no futuro testes genéticos para determinar se uma pessoa que sofre de ansiedade pode se beneficiar ou não do uso da kava kava.
Os pesquisadores não fizeram esta conexão, mas podemos fazer uma analogia com a cafeína. Sabe-se que parte da população é sensível à cafeína, mas outra parte não. Por isso que é difícil generalizar os efeitos de uma substancia para toda a população. Uma planta pode agir para um indivíduo e ser ineficaz para outro, tal como sugerido por este estudo. A medicina será sempre mais personalizada com testes genéticos específicos, incluindo a fitoterapia.
Lembre-se
A kava kava de agora em diante, devido a este estudo, é uma alternativa credível ao nível científico para tratar a ansiedade crônica, com menos efeitos colaterais e risco de dependência que a maioria dos ansiolíticos da medicina convencional (por exemplo, benzodiazepinicos). O TAC é uma doença da nossa época “moderna” e cada vez mais urbana, uma condição complexa, muitas vezes relacionada a outras doenças mentais como estresse e depressão. A Kava kava provavelmente não é uma receita milagrosa para a sociedades cada vez mais estressadas e solitárias (como os estudos sociológicos mostram), mas certamente uma planta útil para aliviar uma parte dos milhões de pacientes em todo o mundo que sofrem de transtorno de ansiedade generalizado. No entanto, sempre consulte seu médico ou farmacêutico antes de iniciar um tratamento com a kava kava, especialmente no caso de uso regular durante vários meses.
3 de dezembro de 2013, por Xavier Gruffat, farmacêutico (ETH Zurich , Suíça) – Fontes: Pubmed , Mayo Clinic – Fotos: © Heike Rau – Fotolia.com (baixo)
Informações sobre o estudo (meta dados)
Nome do estudo (geralmente em inglês) |
Data da publicação |
Mídia |
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Kava in the Treatment of Generalized Anxiety Disorder: A Double-Blind, Randomized, Placebo-Controlled Study |
Outubro 2013 |
Journal of Clinical Psychopharmacology |
Department of Psychiatry, University of Melbourne |