MIAMI, EUA – As dietas de emagrecimento apresentadas nas revistas, embora muito populares, parecem nunca funcionarem da maneira que esperamos. Isso acontece, pois cada organismo reage de maneira diferente ao ingerimos um alimento saudável. Um estudo recente recomenda uma abordagem personalizada no processo de emagrecimento.
O estudo foi realizado com 800 pessoas em Israel e publicado na revista Cell Press na edição de novembro de 2015. Nesse relato científico, os pesquisadores reportam que uma paciente apresentou aumento dos níveis de açúcar no sangue toda vez que comia tomate, alimento ainda considerado baixo teor de açúcar e gordura.
“A primeira grande surpresa e descoberta que tivemos foi a grande variabilidade de reação das pessoas para alimentos idênticos”, resumiu Eran Segal, pesquisador do Instituto de Ciência Weizmann, em Israel.
Os participantes do estudo tiveram seus níveis de açúcar monitorados durante uma semana, além de análise da microbiota intestinal através de exames de fezes e análise minuciosa da ingestão de alimentos.
Focar nas individualidades de cada um
“Há profundas diferenças entre os indivíduos – em alguns casos, eles tiveram reações opostas ao ingerir o mesmo tipo de alimento – e nós carecemos de informação científica sobre o assunto”, disse Segal.
O co-autor do estudo, Eran Elinav, afirma ter aprendido a respeito do nosso nível de imprecisão coletiva relativa a um dos conceitos mais básicos da nossa existência, que é a integração da nossa alimentação às nossas atividades cotidianas.
Em vez de seguir dietas padrão, precisamos de uma abordagem mais personalizada, focando nos indivíduos e não na dieta. Essa medida ajudaria a controlar os níveis de açúcar e melhorar a saúde dos pacientes, Elinav.
Os dois pesquisadores afirmam terem feito progresso em um sistema para proporcionar uma análise nutricional personalizada. A metodologia consiste em analisar amostras de fezes para avaliar a flora do sistema digestivo. Dessa forma, os pesquisadores puderam encontrar bactérias que estariam relacionadas aos níveis de glicose no sangue dos pacientes após as refeições.
A importância da flora intestinal no controle do peso
Cientistas têm cada vez mais apontado para a importância da flora intestinal no controle de peso. Em um estudo publicado no British Journal of Nutrition em 2014 mostrou que mulheres obesas que tomavam probiótico perderam 2 vezes mais peso e gordura durante 6 meses quando comparadas às pacientes que tomaram placebo. Além disso, essa perda de peso foi sustentável e os probiótico ajudaram a controlar o apetite.
Médicos e nutricionistas têm pesquisado maneiras de regular a flora intestinal ajudando os pacientes na perda de peso. Alimentos que ajudam nesse processo incluem a maçã, legumes, frutas, alimentos probióticos, folhas verdes, frutas cítricas e nozes.
O fator psicológico no sucesso das dietas
É sabido que para o sucesso da dieta, o psicológico de cada paciente precisa ser trabalhado. O estresse e a ansiedade para perder peso são inimigos de uma alimentação saudável e equilibrada. Isso faz com que os pacientes muitas vezes façam escolhas erradas e optem por dietas ditas “milagrosas”, que apenas resultam em carência de vitaminas, minerais e, no final, frustração.
Nutricionistas têm alertado que essas dietas extremamente restritivas têm sucesso limitado e geralmente resultam em aumento de peso ao seu final. O ideal é uma reeducação alimentar e um trabalho psicológico para que o paciente possa ter uma relação saudável com as refeições. Esse acompanhamento ajuda a personalizar a dieta para cada indivíduo.
Outra dica que os nutricionistas dão é conhecida como regra “90/10”. Em linhas gerais, os profissionais da saúde falam que para o sucesso da dieta, é normal e esperado que o paciente dê algumas “escapadas” durante o plano alimentar. Esses deslizes não devem ultrapassar 10% do número total de refeições durante a semana, sendo que 90% devem ser escolhas saudáveis e equilibradas. Isso ajuda o paciente a manter a assiduidade na reeducação alimentar e encarar a dieta de maneira mais leve e menos estressante.
30 de novembro de 2015. Texto escrito por Matheus Malta de Sá (farmacêutico, USP). Fontes: AFP.com, British Journal of Nutrition. Fotos: Fotolia.com