Pancreatite
Definição
A pancreatite é a inflamação do pâncreas. A doença é caracterizada por uma dor específica no abdômen, uma dor forte que transpassa a parte superior do abdômen (leia mais em Sintomas abaixo).
Pâncreas
O pâncreas é uma glândula digestiva localizada profundamente no abdome e tem aproximadamente 15 cm de comprimento. O pâncreas pode ser dividido em 4 partes: a cabeça, o colo, o corpo e a cauda.
No nível fisiológico, existem dois tipos de tecido no pâncreas de acordo com a função de secreção endócrina ou exócrina. As células da secreção endócrina representam uma pequena parte do pâncreas, cerca de 2%, e desempenham um papel importante na regulação da glicose por meio da produção de insulina nas ilhotas de Langerhans.
A maior parte do pâncreas é composta de células secretoras exócrinas responsáveis pela formação do suco pancreático. Este suco digere especialmente lipídios, proteínas e açúcares. Cada dia o pâncreas produz 1,5 litros de suco digestivo (pancreático) e ajuda o processo digestivo.
Pancreatite aguda e crônica
Divide-se a pancreatite em aguda, que se desenvolve rapidamente e dura alguns dias, e crônica, que leva mais tempo para se desenvolver e dura meses ou anos.
Durante o processo digestivo normal, as enzimas pancreáticas inativas deixam os ductos pancreáticos, especialmente o ducto pancreático principal, e são despejadas no intestino delgado, onde se tornam ativas para atuar na digestão.
Em caso de pancreatite, estas enzimas tornam-se ativas já no pâncreas. Segue, então, a inflamação das células do pâncreas.
Epidemiologia
Nos Estados Unidos (com uma população em 2021 de aproximadamente 330 milhões de pessoas), aproximadamente 275.000 pessoas são hospitalizadas a cada ano por pancreatite aguda. Por razões desconhecidas, o número de hospitalizações nos Estados Unidos por pancreatite aguda está aumentando, de acordo com a Mayo Clinic.
Causas
As causas da pancreatite podem ser:
– Alcoolismo, isto é, consumo excessivo de álcool (o álcool é uma causa frequente de pancreatite crônica)
– Cálculos biliares. Os cálculos biliares, especialmente os pequenos, podem bloquear a interseção entre o ducto pancreático e o ducto colédoco
– Doenças virais
– Trauma
– Ingestão de medicamentos e substâncias tóxicas
– Tabagismo
– Uma refeição pesada e abundante (principal causa de pancreatite aguda)
– A obesidade. De acordo com um estudo realizado pela Mayo Clinic nos Estados Unidos e publicado em 2020 na revista científica Journal of Clinical Investigation, a obesidade está associada à pancreatite
– Doenças hereditárias, como altos níveis de triglicerídeos no sangue
– Grande operação no abdômen
– Fibrose cística (a causa da pancreatite crônica)
Notas:
– O alcoolismo e os cálculos biliares são geralmente as 2 principais causas de pancreatite aguda, de acordo com a Clínica Mayo. Nos Estados Unidos, o álcool é responsável por cerca de 25% a 35% dos casos de pancreatite aguda.
– Sofrer de múltiplos episódios de pancreatite aguda pode levar à pancreatite crônica.
Hereditariedade (genética):
Casos de pancreatite na família aumentam o risco de sofrer desta doença, principalmente pancreatite crônica.
Pancreatite em crianças
Um estudo publicado em 10 de maio de 2017 na revista especializada The Journal of Pediatrics sugeriu que a pancreatite com início precoce em crianças está fortemente associada a mutações genéticas e história familiar de pancreatite.
Sintomas
Os sintomas da pancreatite variam dependendo do tipo de pancreatite, aguda ou crônica, conforme relata a Mayo Clinic.
Sintomas de pancreatite aguda:
– Dor abdominal superior, a dor é forte e “perfura” a parte superior do abdômen (a dor persiste por horas ou dias sem tratamento). Esta dor abdominal irradia para as costas, a dor frequentemente vai do peito até as costas.
– Dor abdominal que piora depois de comer, depois de respirar profundamente ou se deitar de costas (pelo contrário do que se pensa, inclinar-se para frente ou curvar-se diminui a dor)
– Náusea e vômito. Esses dois sintomas são comuns na pancreatite aguda.
– Sensibilidade ao toque no abdômen
– Possível febre
– Pulso (batimento cardíaco) rápido
Dor:
A dor que aparece na pancreatite aguda costuma ser rápida, intensa e regular. Isso dura alguns dias.
Sintomas de pancreatite crônica:
– Dor abdominal superior (a dor abdominal pode se assemelhar à pancreatite aguda, leia mais detalhes acima).
– Perda de peso indesejada (emagrecimento)
– Fezes de tipo oleosa e com odor forte
– Diarreia
– Diabetes (com a destruição do pâncreas endócrino, a diabetes geralmente aparece quando quase todo o pâncreas foi destruído)
– Possivelmente febre
– Flatulência
Comer ou ingerir álcool pode aumentar os sintomas de pancreatite crônica.
Dor:
A dor que ocorre na pancreatite crônica surge e desaparece e, muitas vezes, surge gradualmente.
Notas de dor:
Tanto a pancreatite aguda quanto a crônica podem ser muito dolorosas e resistir a analgésicos. A maioria dos casos de pancreatite é moderada, mas às vezes a dor pode ser muito forte.
Complicações
Pancreatite aguda:
A pancreatite aguda pode levar a várias complicações:
– Destruição de parte do pâncreas (risco de necrose)
– Inflamação e formação de fluidos ao redor do pâncreas
– Insuficiência em vários órgãos: coração, pulmões (às vezes dificuldade em respirar), rins (levando à diálise).
Pancreatite crônica:
Como a pancreatite (tanto a crônica como a aguda) afeta a produção de enzimas essenciais para uma boa absorção dos alimentos no intestino, portanto pode ocorrer desnutrição (especialmente má absorção de gordura, razão pela qual as fezes são gordurosas, já que pouco é absorvido no intestino), mas também diarreia e perda de peso significativa.
A pancreatite crônica aumenta o risco de câncer de pâncreas cerca de 15 vezes, conforme observado pelo Centro Alemão de Pesquisa do Câncer (Deutsches Krebsforschungszentrum, DKFZ) em Heidelber na Alemanha, em um comunicado à imprensa em 2016. A pancreatite crônica pode levar à diabetes.
Além disso, esta forma de pancreatite pode causar danos permanentes ou falência de vários órgãos (por exemplo, coração, pulmões, rins). Eventualmente, os pseudocistos podem se desenvolver no pâncreas.
Diagnóstico
Os testes e métodos de diagnóstico para pancreatite podem ser, além dos sinais (sintomas) clínicos:
– Medição de enzimas pancreáticas (lipase, amilase) no sangue
– Análise de fezes (especialmente na pancreatite crônica, para medir a quantidade de gordura nas fezes)
– Ecografia
– Scanner abdominal (endoscopia por ultrassom), em particular para identificar cálculos biliares
– Tomografia computadorizada para ver massas e extensão da inflamação
– Ressonância magnética para verificar se há anormalidades na vesícula biliar, pâncreas ou dutos.
Nota:
A pancreatite crônica geralmente é mais difícil de diagnosticar do que a pancreatite aguda.
Tratamentos
Pancreatite aguda:
O tratamento da pancreatite, principalmente a aguda, geralmente requer hospitalização. Em caso de complicações, a pessoa pode ser colocada em cuidados intensivos.
Segundo a Clínica Mayo, o tratamento inicial em um ambiente hospitalar é controlar a inflamação e aliviar a dor. Esses tratamentos podem ser:
–
– Alimentação precoce (em inglês: early eating). Evidências recentes sugerem que comer assim que os alimentos podem ser tolerados ajuda a curar o pâncreas1. Antigamente era recomendado principalmente o jejum, o objetivo era parar de comer por alguns dias para promover a recuperação do pâncreas.
– Medicação para dor.
– Injeção de fluidos intravenosos, o objetivo é prevenir a desidratação do paciente.
Assim que a pancreatite estiver sob controle, a causa da pancreatite precisará ser tratada.
Por exemplo, se a doença é causada por cálculos biliares, uma operação será necessária para desbloquear ou remover esses coágulos.
Às vezes, é necessária uma operação no pâncreas.
Se a pancreatite for causada pelo consumo excessivo de álcool, o tratamento deve ajudar o paciente a interromper ou reduzir drasticamente a ingestão. Idem para o fumo, o paciente deve, se possível, parar de fumar para limitar o aparecimento de novos ataques de pancreatite.
Duração da doença:
A pancreatite benigna aguda geralmente melhora em alguns dias. Já a pancreatite aguda moderada ou grave pode levar mais tempo para cicatrizar.
Pancreatite crônica:
Na pancreatite crônica, certos medicamentos ou tratamentos para dores específicas podem ser prescritos pelo médico.
Em estágios avançados de pancreatite crônica, doses contínuas de analgésicos fortes (ex. morfina) devem ser administradas2.
Enzimas digestivas também podem ser administradas ao paciente para combater a desnutrição. Além disso, o paciente pode precisar mudar alguns de seus hábitos alimentares, ou seja, dieta alimentar.
O objetivo do tratamento para a pancreatite crônica é controlar a dor e gerenciar os problemas de má absorção nos intestinos.
Em alguns casos graves, a cirurgia pode ser realizada (por exemplo, remoção de tecido danificado).
Dicas & Prevenção
– Pare de beber álcool, uma causa comum de pancreatite. É absolutamente essencial parar de beber álcool durante a pancreatite.
– Pare de fumar.
– Coma alimentos com pouca gordura. É melhor adotar uma dieta que limite a gordura e privilegie frutas e vegetais frescos, grãos inteiros e proteínas magras3.
– Coma em pequenas porções, por exemplo, 6 pequenas refeições durante o dia.
– Beba bastante líquido ao longo do dia, água se possível. Sabemos que a pancreatite pode levar à desidratação.
Fontes & Referências:
University of Eastern Finland, Mayo Clinic, German Cancer Research Center, The Journal of Pediatrics, Livro em inglês: Mayo Clinic on Digestive Health, How to prevent and treat common stomach and gut problems, 4ª edição, Sahil Khanna, M.B.B.B.S, 2020, Mayo Clinic.
Redação:
Xavier Gruffat (farmacêutico)
Fotos:
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Atualização:
20.02.2024
Bibliografia e referências científicas:
- SANJEEV NANDA (M.D.), Mayo Clinic a-z Health Guide, WHAT YOU NEED TO KNOW ABOUT SIGNS, SYMPTOMS, DIAGNOSIS & TREATMENT, 2nd edition, Rochester, Imprensa da Clínica Mayo, 2023.
- Revista « Vida e Saúde », revista brasileira sobre saúde, edição de outubro de 2022, artigo da Dra Ester B. Nunes, médica
- SANJEEV NANDA (M.D.),Mayo Clinic a-z Health Guide, WHAT YOU NEED TO KNOW ABOUT SIGNS, SYMPTOMS, DIAGNOSIS & TREATMENT, 2nd edition, Rochester, Mayo Clinic Press, 2023.