O hábito de consumir cafeína, tão comum na vida adulta, tem suscitado preocupações crescentes quando se trata das crianças. Enquanto muitos adultos recorrem à cafeína para se manterem alertas e enérgicos ao longo do dia, seus efeitos sobre o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças são motivo de debate e cautela.
Para entender melhor esses impactos e os reais risco da cafeína para as crianças, entrevistamos a nutricionista Paula Stancari (CRN3 17228), especializada em nutrição materno infantil e saúde da família, criadora do método Bebê Comendo Bem e fundadora da Clínica de Nutrição Materno infantil Paula Stancari.
Impactos da cafeína no desenvolvimento infantil
Especialistas advertem que a cafeína deve ser evitada até os 12 anos de idade, e com razão. Apesar de pessoas em qualquer idade serem suscetíveis à cafeína, as crianças são mais afetadas por seu efeito, “Uma quantidade insignificante para um adulto pode ser “surpreendente” para uma criança pequena”, alerta a nutricionista Paula Stancari.
A maior sensibilidade ao efeito da cafeína nas crianças se dá devido ao menor tamanho corporal, por não terem sido expostos cronicamente a cafeína (menos tolerância), provavelmente, por estarem com o cérebro ainda em formação e por não terem a sabedoria de perceber quando já consumiram muita cafeína.
O excesso de cafeína em crianças pode causar 1:
– Arritmias (ritmos cardíacos anormais).
– Ansiedade.
– Desidratação.
– Diarreia.
– Dores de cabeça.
– Mudanças de humor.
– Inquietação ou nervosismo.
– Convulsões.
– Distúrbios do sono.
– Tremores.
– Desconforto estomacal, aumento de refluxo ácido.
– Interferência no desenvolvimento neurocognitivo. Um estudo transversal com 4243 crianças em idade escolar revelou que aquelas que ingeriam café ou refrigerante diariamente tinham o dobro de risco de desenvolver distúrbios do sono2.
Além do café, outros alimentos contêm cafeína e devem ser evitados
Segundo a American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, a maioria das crianças e adolescentes bebe ou come alguma forma de cafeína diariamente.
A cafeína é encontrada naturalmente em alguns alimentos e bebidas à base de plantas e pode ser adicionada a produtos industrializados. É importante identificar as principais fontes de cafeína presentes na alimentação das crianças, que geralmente vêm de refrigerantes (principalmente do tipo cola e guaraná), café e chás (principalmente chá preto e chá branco) ou de produtos industrializados, ler os rótulos dos produtos é muito importante.
Fontes de cafeína3:
– Refrigerantes, principalmente à base de cola e depois guaraná.
– Café
– Chás (preto, branco, verde, chimarrão e mate), incluindo os chás gelados.
– Bebidas energéticas
– Chocolate e alguns alimentos com sabor “café” (sorvetes, iogurtes, doces de grãos de café)
– Outras bebidas (sucos) e alimentos para petiscar (balas, chicletes, manteiga de amendoim, barras de energia) com cafeína adicionada – Alguns medicamentos de venda livre
– Suplementos (suplementos para perda de peso, energia e exercícios)
Não há um consenso global sobre os limites seguros de consumo de cafeína para crianças. As recomendações da Associação Brasileira de Pediatria são de evitar a cafeína até os 12 anos de idade e estabelecem um limite de ingestão diária para adolescentes entre 12 e 18 anos, não excedendo 100mg por dia, equivalente a uma xícara de café4.
Dicas para uma abordagem saudável e educativa
Separamos algumas sugestões da nutricionista infantil Paula Stancari de como abordar o consumo de cafeína com as crianças de forma saudável e algumas dicas práticas para o dia a dia:
– Tenha conversas abertas, honestas e de fácil entendimento, com as crianças sobre o que é a cafeína, onde é encontrada e seus efeitos no corpo das crianças: atrapalha o sono, dá agitação e irritabilidade e faz o coração bater mais forte.
– Incentive o consumo de água, água de coco, sucos naturais, leite, vitaminas de frutas e iogurtes.
– Seja um exemplo positivo para as crianças, não tenha em casa refrigerantes e energéticos, assim a criança não sentirá falta desse tipo de bebida, pois não teve acesso e não está exposta.
– Mantenha canais de comunicação abertos com as crianças para que elas se sintam à vontade para fazer perguntas e compartilhar preocupações sobre o consumo de cafeína.
– Em festinhas combine com a criança para consumir suco ou água, preferencialmente.
– Se for um hábito da família consumir chá, opte por versões sem cafeína como camomila, erva doce, chá de frutas.
– Caso a criança já esteja habituada a consumir o café com leite, substitua pelo café solúvel descafeinado em água ou outras opções mais saudáveis como por exemplo vitamina de fruta.
Redação
Por Adriana Sumi (farmacêutica), 21.03.2024
Bibliografia e referências científicas:
- Artigo em inglês da Cleveland Clinic,de dezembro de 2023, link acessado pelo Criasaude em março de 2024
- Miller KE. Energy drinks, race, and problem behaviors among college students. J Adol Health. 2008;43(5): 490-97
- Artigo da American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, de julho de 2020. Link acessado pelo Criasaude em março de 2023
- Nota de alerta da Sociedade Brasileira de Pediatria de 1 de novembro de 2022, link acessado pelo Criasaude em março de 2024