BOSTON, EUA – Nas últimas décadas, a obesidade se tornou uma epidemia global que afeta diversas sociedades em países desenvolvidos e em desenvolvimento. O aumento de casos de obesidade está intimamente correlacionado com o estilo de vida sedentário e aumento da disponibilidade, muitas vezes a baixo custo, de alimentos e bebidas altamente calóricos mas que proporcionam pouca saciedade. Muito mais que uma questão estética, a obesidade aumenta o risco de diversas doenças crônicas, como diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão e até alguns tipos de câncer.
Com o crescimento da obesidade mundial e os riscos que o aumento de peso exagerado podem causar, diversos tratamentos têm sido propostos. Apesar da eficácia que muitos fármacos apresentam em reduzir o peso, especialmente quando associados à cirurgia bariátrica, diversos estudos mostram que a perda de peso nem sempre é sustentada pelos pacientes, que eventualmente voltam a engordar. Além disso, os medicamentos contra a obesidade apresentam uso limitado devido aos seus efeitos colaterais, sobretudo no uso em longo prazo. A busca por novos agentes anti-obesidade que sejam mais eficazes e seguros é, portanto, um dos objetivos da ciência atualmente.
O prestigiado periódico científico New England Journal of Medicine publicou, na edição de Julho de 2015, um estudo no qual uma molécula foi testada contra a obesidade. A molécula em questão é um análogo peptídico do glucagon que estimula a secreção de insulina, reduz os níveis de glucagon pós-alimentação, retarda o esvaziamento gástrico e reduz o apetite.
O estudo em detalhes
Após a 56ª semana de estudo, os pacientes que receberam liraglutida apresentaram perda média de 8,4 kg versus 2,8 kg nos pacientes que receberam placebo. Os pacientes que interromperam o uso do medicamento após a semana 56 ganharam, em média, 2,9 kg em 12 semanas.
Além dos resultados positivos da liraglutida na redução do peso, os pacientes que fizeram uso desse medicamento apresentaram melhor controle dos níveis de glicose no sangue e insulina no sangue, melhor perfil de marcadores de doenças cardiovasculares e, no geral, melhor qualidade de vida. Como resultado, o estudo mostra que a liraglutida, na dose de 3 mg por dia, é um importante aliado na perda de peso em pacientes com obesidade ou sobrepeso.
Achamos uma cura para a obesidade?
Embora o resultados com a liraglutida sejam animadores, os pesquisadores alertam que esse agente não é uma cura definitiva para a obesidade. Muitos pacientes com obesidade, mesmo após tratamento com medicamentos, podem voltar a engordar e ter doenças como diabetes e pressão alta. Além disso, os pesquisadores ainda não sabem por quanto tempo a liraglutida precisará ser administrada, e estudos mais longos (de 2 anos de duração) estão em andamento.
A melhor estratégia contra a obesidade
De acordo com diversos profissionais da saúde, a melhor abordagem para combater a obesidade é uma estratégia multiprofissional, com a participação de médicos, nutricionistas, psicólogos e educadores físicos. Pesquisas mostram que a perda de peso baseada apenas em uma abordagem (exercício físico ou medicamentos) é muitas vezes ineficaz, fazendo com que os pacientes voltem a ganhar peso. Nutricionistas também apontam que somente foco em dieta não conduz à perda eficaz de peso.
O melhor a se fazer então é combinar estratégias para uma perda eficaz e saudável de peso. O uso de medicamentos para a obesidade deve ser prescrito e monitorado por médicos e nutricionistas, e suas doses ajustadas ao longo do tratamento. Outro aspecto importante a se considerar é o lado psicológico. Muitas pessoas querem perder peso rapidamente e acabam se submetendo a dietas exageradas e pouco saudáveis. Após alcançado o objetivo, o paciente volta a engordar o que tinha perdido, entrando no efeito “sanfona”. É importate ter paciência e perseverança no processo de emagrecimento, para uma perda sustentável de peso.
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06 de Julho de 2015. Texto escrito por Matheus Malta de Sá (farmacêutico USP). Fonte: NEJM.org. Fotos: Fotolia.com.