Queimadura solar
Arquivo verificado e atualizado em agosto de 2022 pela enfermeira especialista em queimaduras Charlotte Wautelet que trabalha na Suíça (mais informações na parte inferior do artigo).
Definição
A queimadura solar, também chamada de eritema solar ou em latim Dermatitis solaris, é definida como uma queimadura superficial da pele de 1º grau ou uma inflamação aguda da pele. A queimadura solar aparece após algumas horas de exposição ao sol e pode levar vários dias à várias semanas para desaparecer1.
A queimadura solar é uma queimadura causada pela radiação. Clinicamente, há um forte componente inflamatório. De fato, pesquisadores observaram em um estudo em camundongos publicado em 2013 na revista científica PNAS (DOI:10.1073/pnas.1312933110) que os raios ultravioleta da luz solar UVB danificavam uma pequena molécula de RNA nos queratinócitos (células da camada superficial da pele que sintetiza queratina). Essa molécula de RNA modificada desencadeou uma reação em cadeia podendo levar a uma inflamação da pele. Daí o interesse no tratamento, principalmente contra a dor, com o uso de anti-inflamatórios geralmente na forma de creme (mais informações abaixo em Tratamentos). É importante saber que a inflamação é necessária para a cura, é uma das fases da cicatrização. Portanto, os anti-inflamatórios só devem ser utilizados em caso de dor acentuada.
As queimaduras solares têm duas fases:
1. A epiderme fica avermelhada (há uma sensação de queimação, que lembra uma inflamação).
2. A epiderme começa a descascar. Se houver descolamento da epiderme (bolhas), é uma queimadura de 2º grau.
Albinismo (influência da melanina)
As pessoas com albinismo, com uma produção melanina reduzida ou nula, têm um risco significativamente maior de sofrer de queimaduras solares e câncer de pele.
Causas
A causa mais freqüente da queimadura solar é naturalmente, a exposição excessiva e/ou mal protegida aos raios ultravioletas do sol (UVA e UVB), que é uma luz invisível. Os raios UVB são de fato a principal causa de queimaduras solares.
Algumas pessoas correm mais riscos do que outras, como as crianças (que possuem uma pele muito sensível) e as pessoas com pele clara (loiras ou ruivas), pois geralmente possuem menos melanina (molécula que protege a pele contra a exposição solar).
É importante saber que a intensidade do sol pode aumentar em 30% na praia ou na montanha, devido ao aumento da reflexão dos raios UV sobre a areia, a água e a neve. É, portanto, necessário ampliar ainda mais a proteção nestes lugares. Também é necessário se proteger mesmo em dias nublados, pois os raios UV passam pelas nuvens, podendo causar queimaduras. A proteção solar inadequada ou não renovada também aumenta o risco de queimaduras solares.
Outra maneira de ter queimadura solar é através de camas e cabines de bronzeamento artificial, que utilizam raios UV para produzir o bronzeado.
Determinados medicamentos, em especial as tetraciclinas (doxiciclina, minociclina), uma classe de antibióticos utilizada com freqüência em caso de problemas de acne podem favorecer o aparecimento das queimaduras de sol, pois deixam a pele mais sensível. Falamos em fotossensibilidade. Caso esteja em tratamento com uma dessas substâncias, evite a exposição ao sol ou com um FPS superior a 25.
Outros medicamentos como também tornam a pele mais sensível a queimaduras solares, mas são raros os casos: antiinflamatórios não esterioidais (exemplo: ibuprofeno), quinolonas, furosemida, hidroclorotiazida (HCTZ) e fenotiazínas.
Sintomas
Diferente de outras queimaduras, os sintomas da queimadura solar não são imediatos, geralmente a vermelhidão aparece entre 3 a 5 horas após a exposição solar, sendo o pior período após 12 a 24 horas. Esta primeira fase dura normalmente dois ou três dias, após esse período, a vermelhidão desaparece e a pele começa a ressecar e descamar.
Os sintomas de queimaduras severas incluem: dor severa, bolhas e insolação. A insolação pode causar febre, dor de cabeça, náusea, vômito, confusão mental, visão embaçada e desmaios. Caso apresente algum desses sintomas, procure o atendimento médico de emergência (pronto-socorro).
É importante observar que apesar de o bronzeado estar na moda hoje em dia, o excesso de exposição ao sol estraga e envelhece muito a pele.
Em um longo prazo, após muita exposição solar é possível desenvolver um câncer de pele dentre eles o melanoma, um tipo grave de câncer de pele e difícil de tratar. Além disso, a exposição solar pode também aumenta o risco de desenvolver cataratas (quando a película do olho se torna embaçada, podendo levar à cegueira). Portanto deve-se evitar tomar muito sol, principalmente nos horários mais perigosos, entre 10 da manhã e 4 da tarde.
É fortemente recomendado o uso de óculos com proteção adequada (anti-UV).
Complicações
Apesar de um corpo bronzeado estar na moda e ser popular nos dias de hoje, a exposição repetida ao sol leva ao envelhecimento excessivo da pele.
Ter queimaduras solares, especialmente na infância, pode promover o desenvolvimento em longo prazo do câncer de pele (notadamente o melanoma). De acordo com um estudo de Harvard publicado em maio 2014, realizado com mais de 100 mil mulheres, aquelas que tiveram pelo menos 5 queimaduras solares entre as idades de 15 e 20 anos apresentaram um risco 80% maior de desenvolver melanoma alguns anos mais tarde.
Problemas oculares como a aparição da catarata, envelhecimento precoce com a formação de rugas também são complicações de queimaduras solares repetidas.
Deve-se evitar sempre queimaduras solares.
Tratamentos
O tratamento das queimaduras de sol consiste em proteger ou tratar a pele antes (1), durante (2) ou depois (3) da exposição solar.
1. Antes da exposição (e prevenção), é importante besuntar a pele com protetor solar (com um fator de proteção mais elevado, se você fizer parte do grupo de risco). Você deve escolher protetores solares que contenham agentes minerais como óxido de zinco (zinc oxide) ou dióxido de titânio (titanium dioxide)2. Agentes químicos ou moléculas como avobenzona, oxibenzona (esta molécula parece se acumular particularmente no sangue), otorileno, homossalato, octisalato e octinoxato, 6 agentes amplamente utilizados em cremes ou protetores solares, devem ser evitados se possível, particularmente devido à falta de estudos que confirmem uma ausência total de riscos à saúde (por exemplo, distúrbios hormonais, riscos para a criança por nascer em mulheres grávidas). Estes agentes químicos tenderiam a passar da pele para a corrente sanguínea e se acumular no sangue e no corpo com possíveis riscos à saúde.
2. A reaplicação do protetor deve ser feita 15 a 30 minutos antes da exposição ao sol e a cada duas horas. É importante também evitar se expor ao sol nos períodos em que os raios ultravioletas estiverem mais fortes (entre 10h e 16h).
3. Se apesar das precauções citadas no 1. e 2., você ainda tiver uma queimadura, pode ser necessário tratá-la com cremes à base de hidrocortisona. Este é um antiinflamatório bastante eficaz (ver também em: definição de queimadura solar para compreender porque os antiinflamatórios são utilizados). A betametasona, um glicocorticóide sintético, também pode ser usada externamente para queimaduras solares. A eficácia dos corticosteróides para queimaduras solares é controversa. Por exemplo, um estudo de 2008 publicado no Archives of Dermatology (DOI: 10.1001/archderm.144.5.620) mostrou que o tratamento com corticosteróides tópicos de potência moderada ou alta não resultava em uma diminuição clinicamente útil da reação de queimadura solar aguda quando aplicado 6 ou 23 horas após a exposição UV.
Outros cremes, loções ou sprays para queimaduras solares também podem ser utilizados, ales geralmente contém aloe, um medicamento calmante ou diclofenaco (antiinflamatório).
A enfermeira Charlotte Wautelet, especialista em queimadura que trabalha na Suíça e revisou este artigo em agosto de 2022 para o site Criasaude.com.br, também não é a favor do uso de corticoide externamente como tratamento de primeira escolha.
4. Compressas frias, como panos molhas dos com água fria, ajudam a aliviar a sensação quente da pele. Tomar um banho de água fria ou quente também é recomendado. Também é possível adicionar cerca de 1 quarto de xícara de bicarbonato de sódio a este banho, é particularmente recomendado se a extensão das queimaduras solares for grande.
5. Se a dor for muito intensa, pode ser necessário tomar calmantes, analgésicos (paracetamol) ou antiinflamatórios não-esteroidais (AINES) como a aspirina ou o ibuprofeno. Estes medicamentos são mais úteis quando tomados assim que a dor aparecer, após 24 horas os benefícios começa a diminuir.
6. Como as queimaduras de sol deixam a pele muito seca, é também aconselhado aplicar toda noite um creme hidratante (por exemplo, à base de uréia, uma molécula hidratante).
Caso você tenha uma queimadura solar severa, procure o serviço médico de emergência (pronto-socorro), para que eles possam avaliar se é possível o tratamento em caso ou se é necessário maiores cuidados.
Fitoterapia
Fitoterápicos para queimadura solar:
– A calêndula e a arnica, na forma de creme ou pomada, podem agir aliviando a dor associada a queimaduras solares.
Óleos essenciais
Os óleos essenciais como os de lavanda e camomila que possuem propriedades anti-inflamatórias e podem ser eficazes no tratamento de queimaduras solares. Por exemplo, você pode preparar um spray contra queimaduras solares, misturando cerca de 250 mL de água com 16 gotas de óleo essencial de lavanda. No lugar da lavanda, você também pode usar a camomila ou a hortelã-pimenta. A última planta, rica em mentol, ajuda a esfriar a pele. Antes de aplicar, não se esqueça de misturar bem. Utilize várias vezes ao dia aplicando esta mistura diretamente sobre queimaduras solares, no entanto evite a área dos olhos. Utilize várias vezes ao dia aplicando esta mistura diretamente nas queimaduras solares, mas evite a área dos olhos e as mucosas. Não se exponha ao sol depois.
Dicas & Prevenção
– Quando surge uma febre ou as bolhas rompidas se infectam, é necessário consultar um profissional especializado na área de queimaduras.
– Tome banhos ou duchas frias para esfriar a pele queimada. Não é necessário resfriar o resto do corpo. Pare ao primeiro sinal de resfriamento sistêmico (ex. tremores). A água fria esfria a queimadura, mas também tem um efeito analgésico e anti-inflamatório natural.
Também é possível aplicar uma toalha limpa embebida em água fria na área afetada, as compressas frias também podem ajudar.
Evite utilizar cubos de gelo ou gelo (incluindo compressas de gelo), pois a diferença de temperatura geralmente é muito grande e pode ferir a pele e até os nervos.
– Cubra a pele com loções contendo vitamina E ou aloe vera (babosa) para cuidar bem dela.
– Evite cosméticos, perfumes e outros medicamentos que possam causar efeitos colaterais na pele (alergia) durante a exposição ao sol, como é o caso de certos antibióticos como as tetraciclinas usadas contra a acne.
– É muito importante proteger-se bem do sol (protetores solares, óculos de sol, usar bonés ou chapéus, roupas anti-UV). Aplique o protetor cerca de 20 minutos antes da exposição ao sol. Na seção Tratamentos acima, descubra também os protetores solares mais indicados (baseados em agentes minerais e não químicos). Como visto na seção de Tratamentos acima, a exposição ao sol deve ser evitada durante as horas mais intensas (entre 11h e 15h, algumas fontes como a Mayo Clinic falam sobre evitar a exposição ao sol entre 10h e 16h3). Todas essas medidas são essenciais para evitar queimaduras solares. No entanto, a aplicação de protetor solar é cada vez mais controversa na comunidade científica.
– O calor, muitas vezes associado às queimaduras solares, promove naturalmente a desidratação, sendo fundamental beber bastante líquidos para prevenir e tratar as queimaduras solares. Prefira água e evite refrigerantes.
– Não fure bolhas (blisters em inglês) causadas por queimaduras solares. Se as bolhas estiverem presentes em uma grande área do corpo, ou seja, o equivalente a 3 palmas das mãos da própria pessoa, ou em uma área de risco (área íntima, mãos, pescoço, articulação), consulte um profissional de saúde. É importante saber que as bolhas atuam como uma camada protetora, em particular, limitando principalmente as infecções.
Cuidados com bolhas:
Se necessário, especialmente se as bolhas se romperem sozinhas4, desinfete as bolhas sem álcool, em seguida, aplique creme à base de sulfadiazina de prata (por exemplo, em Dermazine®) que tem um efeito antibacteriano ou uma mistura de hialuronato de sódio/sulfadiazina de prata (não disponível no Brasil) e coloque curativo de tela de algodão parafinado (ex. Jelonet®), uma gaze e um curativo final sem grudar na área queimada pelo sol. Utilize uma atadura, se necessário, para evitar atritos. Em caso de corrimento purulento ou dor descontrolada, consulte um profissional especialista em queimaduras.
– Lembre-se que não existe bronzeado saudável.
– Trate a descamação da pele suavemente, conforme sugerido pela Mayo Clinic. A descamação é simplesmente a maneira do corpo de eliminar a camada superior da pele danificada. Enquanto sua pele estiver descascando, continue usando hidratante e evite a exposição ao sol.
Fontes:
Mayo Clinic, The Wall Street Journal, Prevention (revista americana sobre saúde), Keystone-ATS, Astrea Pharmacie (revista suíça sobre saúde), “100 wichtige Medikamente” – Infomed (2020).
Estudos científicos de referência:
Estudos sobre Dermatologia (DOI : 10.1001/archderm.144.5.620), PNAS (DOI : 10.1073/pnas.1312933110).
Pessoas responsáveis e envolvidas na redação deste artigo:
Xavier Gruffat (Farmacêutico e Editor-Chefe do Criasaude), Seheno Harinjato (Editor do Criasaude, responsável pelos infográficos).
Supervisão científica, revisão:
Charlotte Wautelet (enfermeira especialista em queimaduras – Mais informações sobre queimaduras em seu site ARDEAT, em francês). Revisão realizada pela Sra. Wautelet em maio de 2022. Número de registro profissional suíço: 7601007935895.
Observação sobre a redação:
Estamos preferindo utilizar linguagem neutra em nosso texto, quando não é possível, utilizamos o feminino ou masculino para facilitar a leitura.
Esclarecimento jurídico:
As pessoas estão convidadas a verificar qualquer informação contida neste site antes de tomar qualquer ação com base em tal informação.
Créditos fotográficos:
Adobe Stock
Infográficos:
Criasaude.com.br (Pharmanetis Sàrl)
Última atualização do artigo:
21.09.2022
Bibliografia e referências científicas:
- Livro em inglês: Mayo Clinic – Book of Home Remedies – Segunda Edição, Cindy A. Kermott, Martha P. Millman, 2017, Clínica Mayo
- The Wall Street Journal, 17.07.2020
- Livro em inglês: Mayo Clinic – Book of Home Remedies – Segunda Edição, Cindy A. Kermott, Martha P. Millman, 2017, Mayo Clinic
- Livre em inglês: Mayo Clinic – Book of Home Remedies – Segunda Edição, Cindy A. Kermott, Martha P. Millman, 2017, Mayo Clinic