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O magnésio seria tão eficaz quanto antidepressivos comumente utilizado

femme dépressionBOSTON – A depressão, chamada muitas vezes por depressão nervosa, é um grande problema de saúde pública com aproximadamente 350 milhões de pessoas afetadas em todo o mundo, cerca de 5% da população global. Apesar do fato de que existem disponíveis antidepressivos, tais como os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), eles geralmente são caros e podem gerar efeitos colaterais. Um novo estudo clínico surpreendente, mas também sujeito a críticas, publicado no final de junho 2017 sugere que o simples consumo de magnésio como suplemento alimentar, seria um método seguro e eficaz para o tratamento da depressão leve a moderada. O Criasaude teve a oportunidade de entrevistar o cientista que liderou o estudo.

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Magnésio

Além de atuar na regulação do ritmo cardíaco, da pressão sanguínea e na fortificação dos ossos, o magnésio desempenha um papel no combate da inflamação no corpo. Este mineral também tem mostrado uma ligação com a depressão. No entanto, poucos estudos clínicos foram realizados para investigar os efeitos deste complemento alimentar para esta indicação.

Resultados comparáveis aos antidepressivos convencionais

Por isso que a Sra. Emily Tarleton da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, e seus colegas conduziram um estudo clínico sobre comprimidos de magnésio vendidos em farmácias e sua ligação com a depressão leve a moderada. Os resultados mostraram que o magnésio era seguro e sua eficácia comparável com a dos antidepressivos ISRSs (ex. fluoxetina).

Para chegar a estas conclusões, os pesquisadores da Larner College of Medicine da Universidade de Vermont realizaram um ensaio clínico randomizado controlado, mas sem placebo, envolvendo 126 adultos de ambulatórios de cuidados primários. Os participantes que estavam sofrendo de depressão leve à moderada no momento do estudo tinham uma idade média de 52 anos e 38% eram homens. Os participantes no grupo ativo receberam 248mg de magnésio elementar (500mg de cloreto de magnésio) por dia por um período de 6 semanas, o grupo controle não recebeu tratamento. A avaliação dos sintomas da depressão foi realizada a cada 2 semanas em todos os participantes. Os pacientes continuaram a tomar a sua medicação antidepressiva habitual durante o estudo, tanto no grupo ativo como no controle.

Os pesquisadores descobriram que entre os 112 participantes com dados utilizáveis, o consumo de cloreto de magnésio durante 6 semanas conduziu a uma melhoria significativa à nível clínico na avaliação dos sintomas de depressão e ansiedade. Além disso, estes efeitos positivos se manifestaram rapidamente, já depois de 2 semanas de tratamento. Os cientistas de Vermont também notaram que o magnésio foi bem tolerado entre os pacientes, isto é, não levou a efeitos colaterais significativos. Sabe-se, porém, que o consumo excessivo de magnésio pode causar diarreia e dor de estômago. O magnésio na forma de suplemento alimentar é contraindicado para indivíduos com problemas renais.

Como o magnésio age?

Intrevistada pelo Criasaude, a Sra Tarleton afirma que até o momento ainda não se sabe o mecanismo exato do magnésio na luta contra a depressão. Contudo, ela revela que a associação entre o magnésio e a depressão está bem documentada cientificamente. A cientista americana explica: “O magnésio desempenha um papel em muitas reações moleculares, especialmente no nível das enzimas, hormônios e neurotransmissores envolvidos na regulação do humor. Também atua como um agonista de cálcio. Em estados de deficiência de magnésio, níveis elevados de cálcio e de glutamato podem desregular funções sinápticas, podendo levar a uma depressão. A depressão e o magnésio também estão associados com a inflamação sistémica. Mais pesquisas são necessárias para identificar os principais mecanismos de ação”.

Erva-de-São-João?

Infusão de erva de são joãoSabendo que a Erva-de-São-João (Hypericum perforatum L.) é uma planta medicinal também indicada em casos de depressão leve à moderada, o Criasaude perguntou a Sra. Tarleton se os efeitos desta planta foram comparáveis aos do magnésio. A cientista acredita que apesar do fato destes dois suplementos alimentares muitas vezes terem um preço semelhante (barato) e dos mesmos efeitos secundários que afetam principalmente o sistema digestivo, como dores de estômago, ela observa que a Erva-de-São-João pode levar às vezes a graves interações com outros medicamentos alopáticos, o que não ocorre no caso do magnésio. Outra vantagem do magnésio é que como ele é um mineral essencial, desempenha um importante papel em várias funções do corpo. No entanto, ela acha que para alguns pacientes que não respondem ao magnésio ou outros antidepressivos, a Erva-de-São-João pode ser uma alternativa interessante. O objetivo é ter o máximo de opções terapêuticas disponíveis.

Alimentação?

A Sra. Tarleton também disse para o Criasaude que muitos americanos não consomem magnésio diariamente em quantidades suficientes através da alimentação, assim que a ingestão na forma de suplemento alimentar se torna necessária. Nós encontramos uma quantidade significativa de magnésio em vegetais de folhas verdes, feijão, ervilha, nozes e grãos integrais não refinados. A carne, peixe e produtos lácteos geralmente contêm pouco magnésio. Teoricamente a ingestão de magnésio através da alimentação deve ter os mesmos efeitos sobre a depressão como a por suplemento alimentar.

Primeiro

 “Este é o primeiro estudo clínico randomizado que observa os efeitos do magnésio na forma de suplemento alimentar sobre os sintomas de depressão entre adultos norte-americanos”, diz a Sra. Tarleton no comunicado à imprensa do estudo. Ela acrescenta: “Estes resultados são muito encorajadores, dada a grande necessidade de tratamentos adicionais durante a depressão e os nossos resultados mostram que suplementos de magnésio são seguros e baratos para o controle dos sintomas depressivos”.

A Sra. Tarleton e seus colegas concluem seu comunicado à imprensa afirmando que o próximo passo é ver se estes resultados promissores podem ser replicados em uma população maior e mais diversa.
Este estudo foi publicado em 28 de junho de 2017 na revista científica especializada PLoS One.

Críticas, efeito placebo?

O National Health Service (NHS), instituição de saúde inglesa de referência, escreveu um artigo sobre este estudo em 29 de junho de 2017. De acordo com o NHS, os resultados deste trabalho publicado na PLoS One devem ser considerados com cautela, pois os cientistas norte-americanos não realizaram este estudo clínico com um grupo de controlo placebo. Em outras palavras, a ingestão do magnésio também poderia estar relacionada com o chamado efeito placebo. Na sua análise do estudo, os pesquisadores norte-americanos observam ainda que o efeito de magnésio pode realmente ser a partir de um efeito placebo, de alterações fisiológicas ou uma mistura de ambos. No entanto, os cientistas de Vermont afirmam que quando as pessoas deprimidas consumiram o magnésio, elas alegaram se sentir melhor.

Outros estudos, desta vez com um grupo placebo, são realmente necessários para chegar a uma conclusão definitiva sobre o possível efeito antidepressivo do magnésio.

20 de julho de 2017, por Xavier Gruffat (farmacêutico), tradução Adriana Sumi  (farmacêutico) – texto original em francês
Fontes: Comunicado à imprensa do estudo em inglês, NHS (referente ao tópico Críticas, efeito placebo?), estudo em inglês (ver referência abaixo), entrevista realizada em inglês por Xavier Gruffat  com a Sra. Tarleton (entrevista realizada no final de junho de 2017 por e-mail em inglês).
Referência do estudo:
Tarleton EK, Littenberg B, MacLean CD, et al. Role of magnesium supplementation in the treatment of depression: A randomized clinical trial. PLOS One. Publicado online em  27 de junho de 2017.
Revisão do artigo: Christine Gruffat
Crédito das fotos: Fotolia.com

Observação da redação: este artigo foi modificado em 20.07.2017

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