Lúpus é uma doença autoimune que pode afetar diferentes órgãos e causar uma variedade de sintomas. Embora ainda não tenha cura, existem diversos tratamentos que ajudam a controlar os sintomas e reduzir os impactos negativos na saúde e no dia a dia. Manter um estilo de vida saudável, incluindo uma alimentação equilibrada, é um grande aliado no manejo da doença.
Para esclarecer dúvidas sobre qual a melhor alimentação e suplementação para pessoas que convivem com lúpus, o Criasaude conversou com a nutricionista Dra. Liz Helena, formada em Nutrição e pós-graduada em Adequação Nutricional e Manutenção da Homeostase. Ela é criadora do Protocolo de Alimentação Autoimune, voltado para o controle de inflamações e a promoção do equilíbrio do organismo. Além disso, Liz convive com o lúpus, o que traz uma perspectiva prática e sensível às necessidades dos pacientes.
O que é Lúpus?
Lúpus é uma doença autoimune crônica em que o sistema imunológico ataca tecidos saudáveis do próprio corpo, confundindo-os com ameaças externas. Isso pode causar inflamação em diversos órgãos, como pele, articulações, rins e coração. Apesar de poder afetar várias partes do corpo, em muitos casos os sintomas são localizados em um único órgão.
Os sinais de lúpus são variados, incluindo fadiga extrema, dores musculares, lesões na pele, febre e, em casos graves, comprometimento de órgãos vitais. Essa diversidade de sintomas exige tratamentos personalizados que combinem medicamentos, cuidados físicos e suporte nutricional.
O papel da alimentação
Embora não exista uma dieta única para todas as pessoas com lúpus, a alimentação desempenha um papel crucial no manejo da doença. Alguns alimentos ajudam a reduzir a inflamação e melhorar a imunidade, enquanto outros podem agravar os sintomas.
Em geral, uma alimentação funcional e anti-inflamatória, rica em alimentos naturais, com baixo teor de açúcar, evitando soja e farinhas brancas beneficia a maioria das pessoas com lúpus, é o que recomenda a Dra. Liz Helena.
Alimentos a evitar
- Ultraprocessados e gordurosos. Alimentos industrializados com alto teor de gorduras saturadas, sódio e aditivos químicos aumentam os níveis de inflamação no corpo, piorando os sintomas.
- Glúten, leite animal e açúcar refinado. Esses alimentos podem ser altamente inflamatórios para muitas pessoas com lúpus, especialmente aquelas com maior sensibilidade intestinal.
A Dra. Liz Helena enfatiza que a retirada de alimentos inflamatórios deve ser feita sob orientação de um profissional de saúde qualificado. “A restauração da imunidade intestinal é fundamental para melhorar a resposta imunológica. No entanto, esse processo pode desencadear reações iniciais mais intensas, o que exige acompanhamento”, explica.
Alimentos anti-inflamatórios
Alimentos anti-inflamatórios são ricos em nutrientes como ômega-3, polifenóis, flavonoides e vitaminas essenciais.
Incorporá-los na rotina é mais simples do que parece, aqui estão algumas dicas da Dra. Liz Helena:
- Adicione azeite de oliva extravirgem às saladas;
- Inclua abacate em vitaminas ou lanches;
- Use cúrcuma em receitas, como ovos mexidos ou sopas.
Esses pequenos ajustes ajudam a combater inflamações crônicas, promovendo alívio dos sintomas.
Um estudo publicado em 2019 na Critical Reviews in Food Science and Nutrition, mostrou que o ômega-3 ajuda a reduzir a inflamação, a disfunção endotelial e o estresse oxidativo. Este mesmo estudo, demonstrou o efeito da curcuma em reduzir a destruição e perda de proteínas e de células do sangue, além de reduzir a pressão sanguínea1.
Suplementação: quando e por quê?
Suplementação pode ser uma ferramenta importante no tratamento do lúpus, especialmente porque muitos pacientes enfrentam deficiências nutricionais específicas.
A deficiência de vitamina D é comum em pessoas com lúpus devido à baixa exposição solar. Outras suplementações úteis incluem:
– Glutamina: Para fortalecer a barreira intestinal e reduzir inflamações;
– Ômega-3: Reconhecido por suas propriedades anti-inflamatórias2;
– Ferro e zinco carnosina: essenciais para o metabolismo e a saúde celular.
A Dr.Liz Helena ressalta que exames laboratoriais são indispensáveis para avaliar as necessidades de cada paciente, garantindo a segurança e eficácia dos suplementos. Outro cuidado muito importante é a saúde intestinal, por ser responsável pela absorção dos nutrientes e por poder gerar inflamações crônicas no organismo.
A arte da substituição
Um dos maiores desafios relatados por pacientes é abrir mão de alimentos que fazem parte da alimentação tradicional. Liz conta que, no início, teve dificuldade em retirar glúten e derivados do leite, enfrentando recaídas que pioraram os sintomas. Foi então que ela descobriu a “Arte da Substituição”:
“Entendi que mudar não é abrir mão, mas substituir. Por exemplo, troquei o leite animal por leites vegetais e os pães tradicionais por versões sem glúten. Essa mudança foi libertadora e transformou minha relação com a comida.”
A importância de um estilo de vida integrado
Embora ajustes alimentares sejam poderosos, a Dr.Liz Helena enfatiza que prevenir ou minimizar crises de lúpus exige uma abordagem multidimensional. “Somente a alimentação não é suficiente. É preciso cuidar da saúde mental, manter atividade física leve, seguir o tratamento médico e adotar hábitos saudáveis”, recomenda.
Além disso, a nutricionista compartilha sua melhor dica para quem enfrenta o lúpus:
“Compreenda que, muitas vezes, o seu ritmo será diferente. Isso não significa que você é menos capaz. Encontre seus motivos para avançar e não desista de si mesma. Tome as rédeas do seu tratamento e viva com coragem.”
Por um dia a dia melhor
O manejo do lúpus é desafiador, mas estratégias como a adoção de uma alimentação funcional, suplementação adequada e suporte emocional podem transformar a vida da pessoa. Lembre-se de sempre buscar orientação profissional antes de fazer mudanças na alimentação ou iniciar suplementações. Com equilíbrio e determinação, é possível viver bem com lúpus e superar os desafios da doença.
Referências e fontes
– ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Brasil)
– Pubmed
Redação
Adriana Sumi (farmacêutica)
Bibliografia e referências científicas:
- de Medeiros MCS, Medeiros JCA, de Medeiros HJ, Leitão JCGC, Knackfuss MI. Dietary intervention and health in patients with systemic lupus erythematosus: A systematic review of the evidence. Crit Rev Food Sci Nutr. 2019;59(16):2666-2673. doi: 10.1080/10408398.2018.1463966. Epub 2018 May 17. PMID: 29648479.
- de Medeiros MCS,Medeiros JCA, de Medeiros HJ, Leitão JCGC, Knackfuss MI.Dietary intervention and health in patients with systemic lupus erythematosus: A systematic review of the evidence.Crit Rev Food Sci Nutr. 2019;59(16):2666-2673. doi: 10.1080/10408398.2018.1463966.Epub 2018 May 17. PMID: 29648479.