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Cistite

Artigo atualizado em: 13.01.2024
Autores: Xavier Gruffat (farmacêutico, ETH Zurique), Adriana Sumi (farmacêutica, USP)

Resumo sobre cistite

A cistite é uma inflamação e infecção da bexiga. Ele afeta particularmente as mulheres, devido à uretra mais curta. É normal que as mulheres desenvolvam a cada ano uma ou duas infecções do trato urinário como cistite.
A causa é principalmente bacteriana (E. Coli). Os fatores de risco são numerosos e podem ser falta de higiene, menopausa, malformações, etc.
Os principais sintomas da cistite são micção (urinar) frequente e dolorosa.
O diagnóstico geralmente é baseado na anamnese e no exame clínico (laboratório). As complicações, embora raras, podem levar a pielonefrite, isto é, uma grave inflamação do rim. O tratamento da cistite é à base de antibióticos.

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Beber muita água e ter uma boa higiene pessoal são as duas principais boas dicas de prevenção.

Eu tenho uma cistite, que devo fazer ?

1. A primeira coisa a fazer nos primeiros sintomas da cistite é beber muito líquido, beber diretamente e rapidamente, em cerca de 1 hora 1 litro de água, ou chás de ervas com base em plantas medicinais. É importante beber muito rapidamente cerca de 1 litro de líquidos em 1 hora (ex. 3 doses de 3,3 dl a cada 20 minutos). O objetivo consiste em diluir os germes, incluindo ao nível da bexiga e facilitar a sua saída do trato urinário. A gente não deve beber demais, mas até que a gente não tenha mais sede. Beber bastante está cientificamente1 comprovado ser uma medida muito eficaz na prevenção da cistite recorrente ou como medida de terapia.

2. Em seguida, procure um medico para realizar testes de analise de urina. Graças à ajuda de algumas tirinhas possivel confirmar se trata-se ou não de uma cistite. Apos detectadar as bacterias responsáveis pela cistite, ele irá prescrever anti-inflamatórios para acalmar a dor.
Você pode comprar em uma farmácia, tirinhas que possibilitam efetuar um teste que permite confirmar a presença de bactérias e glóbulos brancos na urina. Se o resultado do teste for positivo, a pessoa deverá consultar um medico para que este prescreva o uso de antibioticos.

3. Por fim, você pode complementar a terapia tradicional (antibióticos) com remédios base de plantas. Beba, por exemplo, várias vezes ao dia, suco de cranberry. A eficácia do cranberry contra infecções do trato urinário em mulheres parece estar agora cientificamente comprovada, como sugere um grande estudo publicado pela Cochrane (DOI: 10.1002/14651858.CD001321.pub6) em 2023.

Definição

Uma cistite aguda não complicada é uma inflamação e infecção da bexiga. Trata-se de uma infecção das urinas na bexiga. A palavra cistite provém do grego antigo cysto- que significa “bexiga” e ite “inflamação”.

Bexiga
A bexiga é um órgão oco que pode conter 600 a 1000 ml de líquido. A bexiga serve para armazenar a urina produzida pelos rins.

Trata-se de uma doença infecciosa causada principalmente por bactérias (cerca de 70 a 90% dos casos são provocados por enterobactérias, do tipo Escherichia coli) que sobem nas vias urinárias até a bexiga. As bactérias podem se fixar nas paredes da bexiga e se multiplicar.

As cisitites são freqüentemente causadas pela contaminação das matérias fecais.

Epidemiologia

– A cistite é muito mais frequentemente em mulheres do que em homens, isto devido em grande parte por diferenças anatômicas, os homens possuem uma uretra mais longa, permitindo uma melhor proteção. Em média, a uretra das mulheres mede 4 cm, já os homens contem em média com 20 cm de uretra. A probabilidade de que as bactérias subam a uretra e cheguem à bexiga em um homem é muito menor.

Além disso, a uretra da mulher é bastante próximo ao ânus, outro fator que explica a maior incidência de cistite em mulheres.

No entanto, um estudo americano publicado no final de 2013 mostrou que os homens têm um risco maior de serem hospitalizados em casos de cistite. De acordo com os pesquisadores, são principalmente os homens idosos que se encontram internados no hospital para tratamento com antibióticos.

Em mulheres, o risco de sofrer de cistite ou infecção urinária é 8 vezes maior do que nos homens. Algumas fontes chegam a mencionar um risco 10 a 20 vezes maior na idade adulta.

– 10% a 20% das mulheres são atingidas por uma cistite a cada ano, isso a torna uma das principais causas de consulta médica.

– Estima-se que 40% a 60% das mulheres sofrem de cistite ou infecção urinária pelo menos uma vez em suas vidas.

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– Ressaltamos que  10% das mulheres que tiveram cistites poderão sofrer com reincidências (mais de 4 cistites por ano), neste caso é absolutamente necessário consultar um médico.

Mulheres mais velhas:
– A cistite é comum em mulheres mais velhas, ocorre em 10% das mulheres com 65 anos ou mais e 30% das mulheres com 85 anos ou mais2.

Ver também : cistite intersticial

Causas

As cistites são geralmente causadas por bactérias que sobem nas via urinárias, sendo assim, algumas situações podem ser favoráveis ao seu desenvolvimento, tais como :

– má higienização das partes íntimas (pode haver contaminação pelas bactérias das fezes).

– relações sexuais

– má formações do aparelho urinário

cálculos urinários (litíase urinária)

diabetes (tipo I ou II)

– sondas urinárias como um cateter. Em razão dos cateteres frequentemente utilizados em ambiente hospitalar, é elevado o número de pessoas acometidas por cistite em hospitais.

– gravidez (pode haver compressão do feto sobre a bexiga, o que impede o esvaziamento total desta).

constipação (prisão de ventre)

menopausa (entre os 50 e 60 anos, o risco de desenvolver cistites recidivantes é relativamente alto), a queda de hormônios neste período reduz o nível de proteção da bexiga. Além disso, há uma alteração do pH vaginal na menopausa, o que favorece a entrada da Escherichia coli (bactéria). Um pH básico ou ácido evita a entrada de bactérias indesejáveis na vagina.

herpes genital

– os espermicidas, por exemplo, encontrados em preservativos. Eles aumentam o risco de infecções do trato urinário.

– casos de cistite na família (predisposição genética).

Mecanismo de fixação de E. coli no trato urinário
– Um estudo suíço publicado em março de 2016 na revista Nature Communications ajudou a entender melhor como a bactéria E. coli permanece fixada ao trato urinário. Esta ligação ocorre através de proteínas chamadas FimH, localizadas ao longo dos apêndices ou filamentos da bactéria E.Coli (ver foto abaixo). A proteína FimH liga-se a açúcares das células do trato urinário, quando há fluxo de urina a bactéria permanece presa. Uma vez que o fluxo de urina diminui, algumas vezes as bactérias “nadam rio a cima” e podem então subir o trato urinário e chegar até a bexiga. Este estudo foi realizado, em parceria, pela Universidade de Basel e pela ETH Zurich, duas instituições suíças de referência.

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Foto: E.Coli em 3D com apêndices (filamentos). Fonte: Fotolia.com

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– Um estudo dinamarquês publicado em agosto de 2016 na revista científica mBiO mostrou que a bactéria E. coli consegue mudar a sua forma e se tornar extremamente longa (um processo conhecido como “filamentation” em inglês, veja a foto abaixo), como estratégia de sobrevivência. Por consequência, a bactéria melhora a sua capacidade de se ligar à parede da bexiga, fazendo com que a sua eliminação na urina seja reduzida. Entrevistado pelo Criasaude em agosto de 2016, o Prof. Møller-Jensen da Universidade do Sul da Dinamarca que liderou o estudo, diz que a bactéria E. coli é capaz de se alongar mais de 100 vezes, o que aumenta drasticamente a sua adesão às células da bexiga. Ao bloquear a formação destes filamentos, o professor dinamarquês diz que seria possível aumentar a eliminação bacteriana através da urina e assim limitar a cistite, especialmente aquelas reincidentes.
Ler: Causa da cistite, novo mecanismo

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Grupos de risco

Todas as mulheres podem ter uma cistite, pois elas possuem um aparelho urinário que favorece a contaminação por bactérias (diferença anatômica), mas:

Grupos de risco cistite

– Principalmente as mulheres idosas, pois a produção hormonal que tem um efeito protetor diminui. Como discutido na seção sobre epidemiologia acima, a cistite ocorre em 10% das mulheres com 65 anos ou mais e em 30% das mulheres com 85 anos ou mais3.
É importante saber que temos um microbioma de bactérias normais e saudáveis que vivem em todo o corpo para ajudar a combater as bactérias más que nos deixam doentes. Este é também o caso da bexiga e do trato urinário, de modo que, à medida que envelhecemos, estas boas bactérias podem ter mais dificuldade em combater as infecções por uma série de razões. O hormônio estrogênio, em particular, ajuda a manter boas bactérias saudáveis e más bactérias à distância.

– As crianças pequenas (meninas) que muitas vezes ainda não têm uma boa higiene íntima (não se enxugam corretamente, etc).

Os homens são menos afetados por este problema, com exceção dos que possuem problemas da próstata, que estão mais sujeitos às cistites.

Sintomas

– A pessoa afetada pela cistite tem uma constante vontade de urinar. Em alguns casos a cada 2 minutos.
– O volume da urina é em geral pouco significante (polaciúria). Não é incomum que o fluxo é de apenas algumas gotas.
– Geralmente há muita dificuldade e dor (disúria) quando se está urinando, devido a uma sensação de queimação.
– Dores podem ser ressentidas também na região das costas ou na parte inferior da barriga.
– Muitas vezes, a urina emitida pode ter mau cheiro.
– Em caso de cistite é possível sentir uma sensação persistente de bexiga cheia. Além disso, o sangue na urina é geralmente o sinal de uma cistite.
– A urina pode ser turva. Na realidade, durante a cistite a bacteria  E.Coli sobe o trato urinário, se agarra à parede ou à face interior da bexiga, cresce e então causa a inflamação. Em resposta, o corpo rejeita a camada externa de células da bexiga e remove a maior parte das bactérias na urina. Isto resulta numa urina turva, típico de uma infecção urinária como a cistite.

Sangue
A cistite normalmente não tem conseqüências graves, mas em certos casos, pode ter complicações, como o desenvolvimento de infecções renais. Este sintoma seria consequência da reação de defesa do nosso organismo. Durante a cistite, os glóbulos brancos são mobilizados. Isso resulta em uma inflamação, que danifica a mucosa urinária em particular. Pequenas quantidades de sangue podem passar pelo trato urinário e terminar na urina, também chamada de hematúria (sangue na urina).

Normalmente, a cistite não apresenta febre. Este sintoma geralmente caracteriza a pielonefrite, uma complicação grave da cistite.

Cistite em idosos e confusão mental
Em pessoas de idade mais avançada (com 80 anos ou mais), os sintomas clássicos de uma cistite, tais como a vontade constante de urinar, podem ser inexistentes, o que complica sobremaneira o diagnóstico. Todavia, o idoso pode apresentar sintomas como confusão mental, distúrbios da memória, delírios ou ainda alucinações. A agitação e vertigens são dois outros possíveis sintomas. Os delírios podem eventualmente se caracterizar pelo esquecimento dos nomes dos netos, por agressividade, comportamento estranho, etc. A origem destes delírios reside em uma mudança no sistema imunológico dos idosos.
Muito amiúde, estes sintomas mentais precedem os sintomas típicos da cistite, tais como a dor ou a vontade frequente de urinar, podendo por vezes até mesmo ser os únicos sintomas da cistite em idosos.
À imagem do que ocorre com pessoas mais jovens, o tratamento consiste à administrar antibióticos para tratar a infeção. No entanto, em caso de bacteriúria assintomática (em inglês:  asymptomatic bacteriuria), ou seja, sem sintomas nos idosos, os antibióticos não devem ser administrados4. Não é necessário e causa resistência aos antibióticos.

Diagnóstico

O diagnóstico de cistite pode ser baseado em uma anamnese (história médica) ou às vezes em um teste de urina. Este teste é especialmente recomendado em situações de risco, por exemplo, em mulheres grávidas.

Exame de urina
O exame de urina (amostra de urina) pode incluir a procura de nitritos. Estes são liberados por bactérias, especialmente por E. coli, que causam cistite em cerca de 85% dos casos. Um alto nível de glóbulos brancos (leucócitos) também pode ser encontrado na urina durante a cistite, porque a inflamação produz grandes quantidades de glóbulos brancos. Finalmente, o sangue na urina, em alguns casos, também caracteriza uma cistite (leia mais sobre isso em Sintomas, acima).

Além disso, o médico também pode solicitar uma ecografia.

O diagnóstico é sempre tarefa do médico, portanto somente ele saberá decidir qual o melhor diagnóstico.

Complicações

A cistite normalmente não traz complicações. No entanto, em alguns casos, se não for corretamente tratada, ela pode permitir que bactérias subam na região do rim, causando assim uma nefrite ou pielonefrite. As pessoas idosas e imunocomprometidas correm maior risco de desenvolver complicações.
Esse tipo de complicação é muito problemática e pode colocar o rim em perigo (risco de insuficiência renal, com diálise), em caso de dúvida quanto à cistite, consulte sempre um médico.

Uma cistite mal tratada também pode levar à septicemia.

Quando consultar um médico?

– É absolutamente necessário consultar um médico nos seguintes casos: se houver sangue na urina, fortes dores (por ex. nas costas) febre alta, se a cistite permanecer dolorosa e/ou acompanhada de febre durante três dias, se ela ocorrer em homens (risco de hipertrofia da próstata), crianças ou grávidas. Em caso de cistites reicidivantes também é importante consultar um médico. É normal que as mulheres desenvolvam uma ou duas infecções do trato urinário a cada ano como a cistite. Mas quando elas aparecem mais vezes, ou quando aparecem nos homens, podem ser motivo de preocupação.

Atenção, lista não exaustiva, para qualquer sintoma suspeito, consulte um médico.

Tratamentos

Antibióticos

O médico, depois de fazer um diagnóstico e afastar o risco de complicações, costuma prescrever antibióticos. A norfloxacina ou outras moléculas da família das quinolonas às vezes são prescritas por um curto período de tempo (como uma dose única ou por mais de 3 dias). Mas por causa do aumento dos casos de resistência, outras classes de antibióticos são sempre mais prescritas, como a amoxicilina ou principalmente a fosfomicina e a nitrofurantoína (sempre a primeira escolha, leia mais abaixo). Os antibióticos são vendidos apenas com receita.

A fosfomicina pode apresentar algumas vantangens em relacão aos outros antibióticos:
– Um só comprimido à base de fosfomicina pode geralmente curar uma cistite.

– A taxa de resistência seria mais baixa do para os outros antibióticos (em comparação às quinolonas).

– A fosfomicina apresenta menos efeitos secundários, como a diarréia ou as nâuseas.

– A ação deste antibiótico é mais específica : de fato a fosmicina vai impedir a fixação da bactéria (responsável plea cistite) nas paredes da bexiga.

No entanto, um estudo suíço publicado em 2018 mostrou que a nitrofurantoína foi significativamente mais eficaz contra cistite do que a fosfomicina. Neste estudo conduzido pela Universidade de Genebra, 513 mulheres com idades entre 18 e 101 anos, residentes na Suíça, Israel ou na Polónia, foram aleatoriamente escolhidas para tratamento com fosfomicina ou tratamento com nitrofurantoína. Os pesquisadores realizaram controles bacterianos nos participantes antes de tomar o medicamento, aos 14 dias e 28 dias após o tratamento, para observar a erradicação das bactérias infecciosas. Os cientistas descobriram que 70% dos participantes responderam positivamente ao uso de nitrofurantoína e 74% das bactérias definitivamente desapareceram, em comparação com uma taxa de sucesso de apenas 58% para 63% das bactérias erradicadas em mulheres tratadas com fosfomicina. Este estudo foi publicado online em 1 de maio de 2018 na revista científica JAMA (10.1001 / jama.2018.3627).

É recomendado evitar as quinolonas, devido ao aumento da resistência.

Revisão das fluoroquinolonas
As fluoroquinolonas, usadas no passado contra cistite e infecções urinárias, têm sido cada vez mais desencorajadas desde a década de 2010 devido aos potenciais efeitos colaterais por vezes graves, especialmente nos músculos e articulações, tendões e neurológicos. Desde 2016, o FDA (agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos) desaconselha o uso de fluoroquinolonas contra infecções simples do trato urinário (por exemplo, cistite simples)5

Por causa do aumento de bactérias resistentes à quinolona, outros tipos de antibióticos são muitas vezes utilizados contra a cistite (ex: cefuroxima e cotrimoxazol), especialistas europeus e americanos propuseram desde 2011 recomendações de evitar o uso das quinolonas no caso de infecções não complicadas do trato urinário (ITU) baixo, ou seja, em mulheres com cistite urinária aguda sem patologia conhecida, fora da gravidez e sem febre, como revelado pelo site suíço de referência Pharmavista.net em junho de 2011.

O Hospital Universitário de Genebra  (HUG), na Suíça, oferece o seguinte tratamento para ITU não complicada em mulheres (sem febre, não grávida e sem malformação do trato urinário)

– 1ª escolha: nitrofurantoína cápsula de 100 mg, três vezes ao dia, durante 5 dias

– 2ª escolha: fosfomicina 3 g em dose única

Atenção, assim como para todos os tratamentos com antibióticos, respeite a duração deste, isto é, mesmo se não estiver mais com os sintomas ou  as dores associadas à cistite, não suspenda a terapia prescrita, siga as orientações médicas até o fim (termine a caixa de comprimidos), em caso contrário, você estará aumentando a resistência aos antibióticos.

Em casos graves de cistite ou infecção urinária, a duração da terapia com antibióticos em dose baixa pode durar até 5 anos.

No entanto, desde 2019, a Sociedade Suíça de Infectologia recomenda uma ou outra molécula (nitrofurantoína ou fosfomicina) como primeira escolha, sem prioridade. O tratamento recomendado varia ligeiramente de acordo com o HUG, isto é, nitrofurantoína 100 mg duas vezes ao dia por 5 dias ou fosfomicina 3 g em dose única.

Observação sobre os antibióticos contra a cistite

– A taxa de resistência ao antibiótico trimetropina pode ser superior à 20% em determinados países. A fluoroquinolona também pode gerar resistências, portanto em caso de cistites complicadas, é preferível tomar outros antibióticos como a fosfomicina, o mecilinam e/ou a nitrofurantoína (Fonte: Tribune Médicale, Junho de 2009, Suíça).

– Em casos graves ou quando há resistência aos antibióticos por via oral, o médico pode administrar antibióticos intravenosos.

– A ciprofloxacina é outro antibiótico, entre outros como a nitrofurantoína ou fosfomicina indicado para cistite, mas deve ser preservado e usado somente durante infecções graves. De fato, a ciprofloxacina, um antibiótico de nova geração, tem sido excessivamente utilizada, especialmente nos anos 2000, e levou a casos de resistência. Em 2018, a Universidade de Genebra estimou em um comunicado de imprensa publicado em maio de 2018 que até 20% da população bacteriana era resistente à ciprofloxacina.

– Em 2018 e ainda de acordo com a Universidade de Genebra, o antibiótico mais prescrito contra a cistite, pelo menos na Suíça, foi a fosfomicina. A razão é que tomar fosfomicina para combater a cistite é muito simples, basta tomar uma cartela deste antibiótico de uma única vez. A nitrofurantoína, outro antibiótico também indicado para cistite, é 3 vezes menos prescrito na Suíça do que a fosfomicina. A principal razão é que tomar nitrofurantoína é mais complicada, 1 comprimido 3 vezes ao dia por 5 dias, do que a fosfomicina (1 dose única).

Anti-dor – Antiinflamatório

Contra as dores da cistite, você pode também tomar anti-inflamatórios (ibuprofeno,…).

Antiespasmódico

Contra os espasmos,  é também possível tomar um antiespasmódico, que deve ser utilizado nos primeiros sintomas da cistite.

Vacina contra a cistite?

Por enquanto ainda não existem vacinas disponíveis contra a cistite, mas segundo alguns estudos será possível em um longo prazo, desenvolver uma vacina (com a E.Coli) contra esta e outras infecções urinárias. Testes laboratoriais efetuados em ratos obtiveram bons resultados, mas ainda é necessário esperar alguns anos para que estes sejam efetuados em pessoas.

Menopausa e cistite (infecções urinárias)

Após a menopausa, alguns médicos prescrevem estrogênios (ex. em aplicação vaginal) para prevenir o risco de infecções do trato urinário em mulheres.

Tratamento da cistite recorrentes

Caso mais de 3 episódios de cistites ocorram por ano, fala-se de cistites recorrentes.

Antibióticos
Para tratar uma cistite recorrente, o médico pode, por exemplo, prescrever uma baixa dosagem de antibiótico a ser tomada diariamente, por entre 6 e 12 meses.
Alguns médicos, especialmente os americanos, recomendam tomar um comprimido ou cápsula de antibiótico após cada relação sexual. Esta abordagem não aumenta os casos de resistência a antibióticos, bem como de micoses vaginais.

Manose, remédio natural em caso de cistite recorrente
A manose é uma alternativa interessante para a substituição dos antibióticos usados no tratamento da cistite recorrente sem complicações, pois se fixa à proteína FimH das bactérias E.Coli (ler Causas, abaixo, para entender melhor a proteína FimH e o seu papel na cistite). A manose é um açúcar simples, passível de ser comprado em farmácia, por exemplo, na forma de D-manose. O uso de D-manose por 6 meses é recomendado para prevenção prolongada. A posologia indicada para a prevenção da cistite é de 2 g ao dia, simplesmente dissolvidas em um copo d’água.
A manose atua como um antagonista natural da proteína FimH. Uma pesquisa croata datada de 2014 realizada junto a mais de 300 mulheres (aqui o link para saber mais sobre o estudo) mostrou que a manose era tão eficaz quanto os antibióticos na prevenção de infecções urinárias recorrentes. A manose provoca menos efeitos colaterais que os antibióticos, embora haja eventualmente um efeito colateral com este açúcar: a diarreia.

Fitoterapia

Existem inúmeras plantas que ajudam a prevenir e a tratar as cistites.
No entanto, estas plantas devem ser utilizadas sob prescrição de um especialista (farmacêutico, médico) que indicará qual a mais adequada, em função dos sintomas, da frequência e da duração das cistites.
Nos casos de infecção bacteriana, os médicos costumam prescrever os  antibióticos com bastante freqüência. Ressaltamos que o papel  das plantas com bagas (cranberry, arando vermelho) na prevenção das cistites recidivantes é bastante positivo.
Você encontrará abaixo as plantas mais utilizadas no tratamento e na prevenção das cistites.

Plantas utilizadas na prevenção das cistites:

Arando vermelho (uva-do-monte), utilizadas em sucos.

Cranberry, utilizada em sucos ou em cápsulas. A eficácia do cranberry contra infecções do trato urinário em mulheres parece estar agora cientificamente comprovada, como sugere um grande estudo publicado pela Cochrane (DOI: 10.1002/14651858.CD001321.pub6) em 2023.

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Plantas utilizadas no tratamento das cistites:

– Bétula, utilizada em chás ou cápsulas.

– Urze (Erica cinera), utilizada em cápsulas

– Urtiga, utilizada em chás ou cápsulas.

– Cavalinha, utilizada em chás ou cápsulas.

– Uva-ursi, utilizada em chás ou cápsulas.

Remédios naturais

Aqui estão os remédios caseiros aconselhados no tratamento ou prevenção da cistite:

Vinagre de cidra (prevenção)

Infusão contra a cistite

Infusão de cavalinha

– Água com limão rica em bicarbonatos. Adicione um pouco de suco de limão à água mineral, se possível, rica em bicarbonatos. Os bicarbonatos tornam possível alcalinizar a urina e o suco de limão atua como agente antibacteriano.

Dicas terapia

– Beba bastante líquido: de 1.5 a 2 litros de água por dia, pois, assim como no caso dos resfriados, este recurso permite a diluição e eliminação de germes infecciosos. Este efeito é particularmente útil na região das vias urinárias e da bexiga. Evite beber refrigerantes ou outras bebidas gasosas, e dê preferência à água, aos sucos de cranberry ou chás de plantas medicinais contra a cistite. Tente esvaziar sua bexiga completa e frequentemente.
É importante beber muito rapidamente cerca de 1 litro de líquidos em 1 hora (ex. 3 doses de 3,3 dl a cada 20 minutos). O objetivo consiste em diluir os germes, incluindo ao nível da bexiga e facilitar a sua saída do trato urinário. Beber bastante está cientificamente comprovado ser uma medida muito eficaz, quer na prevenção da cistite recorrente ou como medida de terapia. Também não beba muito, mas até que você não tenha mais sede.

– Você pode aplicar uma bolsa térmica na parte inferior da barriga para aliviar as dores da cistite.

Prevenção

– Beba bastante líquido (pelo menos 1 litro ao dia). Para prevenir as cistites recidivantes, experimente sucos (250 ml ao dia) de plantas com bagas (arando vermelho, cranberry) pois estes são bastante eficazes. Tente esvaziar sua bexiga completa e frequentemente.

– Lute contra a fadiga e o estresse, pois ambos podem ser responsáveis pelo aparecimento da cistite, através do enfraquecimento do sistema imunológico. Você pode tomar fortificantes e vitaminas para fortalecer o sistema imunológico.

– Aumente suas defesas imunológicas, através da sauna, por exemplo, e de uma alimentação saudável, composta de frutas que são ricas em vitaminas (evite as frutas cítricas,) ou probióticos ( iogurtes, lactobacilos).
Você pode também tomar remédios à base de equinácea, vitamina C ou medicamentos imunoestimulantes à base de extratos de germes, como a bactéria E.Coli, para reforçar o sistema imunológico.

– Utilize roupas quentes no inverno, evite roupas íntimas muito apertadas, curtas ou sintéticas (dê preferência às confecções em algodão). As jovens devem tomar cuidado com a moda da barriga à mostra no inverno, pois o frio fragiliza o sistema imunológico, sendo assim, o risco de obter uma cistite aumenta.

– Troque regularmente suas roupas íntimas para evitar o aparecimento de agentes infecciosos.

– Trate e previna qualquer problema de prisão de ventre o quanto antes, pois esta pode favorecer a fermentação intestinal que por sua vez, poderá levar a uma propagação das bactérias em direção às vias urinárias.

– Urine sempre que tiver vontade, não é aconselhável “segurar o xixi”, pois neste caso os germes podem se proliferar mais facilmente.

– Tenha uma boa higiene íntima. O uso de sabonetes ou cosméticos muito fortes pode favorecer a entrada de agentes infecciosos.

– Em algumas mulheres, após as primeiras relações sexuais, pode sobrar alguns restos do hímen, que impedem uma boa evacuação da urina e podem provocar cistites. Devido a isso, algumas mulheres conseguem observar uma redução e até mesmo a interrupção das cistites após o nascimento do primeiro filho.  Para isso, o parto deve ser normal, pois isso ajudará a evacuar de maneira natural os restos do hímen. Em alguns casos, o médico poderá propor uma cirurgia para retirar estes restos.

– Respeite os conselhos de higiene no banheiro, as mulheres devem se limpar de frente para trás, em direção ao ânus, para evitar a contaminação das vias urinárias por agentes infecciosos fecais.

– As relações sexuais podem, às vezes, favorecer o aparecimento de cistites, portanto é aconselhado beber antes da relação e urinar (esvaziar a bexiga) logo depois, já que isso permite a eliminação de determinados germes que podem provocar uma cistite.

– Evite as jacuzzi (elas podem estar infectadas por inúmeros germes)

– Se você está na menopausa, deve saber que a secura vaginal sintomática desta pode favorecer as infecções urinárias. Converse com o seu médico para agir de forma preventiva, se for o caso.

– Evite o uso de absorventes externos, especialmente entre as mulheres com cistite de repetição. Prefira os internos.

– Em caso de cistite de repetição, a acupuntura pode ser uma medicina alternativa eficaz. A ação da acupuntura é baseada na estimulação do sistema imunológico e no fortalecimento de certos órgãos do trato urinário (bexiga, por exemplo). Consulte o seu acupunturista sobre o número recomendado de sessões. De acordo com um estudo norueguês, duas sessões por mês por um mês reduziram o número de cistites nos seis meses seguintes às sessões de acupuntura.

– Não use espermicidas, especialmente em preservativos ou diafragmas. Esses produtos químicos aumentam o risco de cistite e infecções urinárias em geral.

– Em caso de cistite de repetição, tome mais banhos de chuveiro que de banheira.

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Causa da cistite, novo mecanismo

Fotos: 
Adobe Stock

Redação:
Xavier Gruffat (farmacêutico)

Bibliografia e referências científicas:

  1. Artigo da Clínica Cleveland sobre sintomas de cistite (Symptoms of Urinary Tract Infections in Older Adults), datado de 15 de agosto de 2022, acessado em 15 de agosto de 2022
  2. Newsletter da Harvard Medical School, edição de setembro de 2021
  3. Harvard Medical School Newsletter, edição de setembro de 2021
  4. Newsletter da Harvard Medical School, edição de setembro de 2021
  5. Folha de S. Paulo, edição de 10 de outubro de 2020
Observação da redação: este artigo foi modificado em 13.01.2024

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