Cirurgia em casos de obesidade
A cirurgia para casos de obesidade ou cirurgia bariátrica é um método eficaz para perder peso, geralmente reservadas para casos graves de obesidade.
É importante notar que nos casos avançados de obesidade, a cirurgia é muitas vezes a única técnica para perder peso de forma duradoura.
Existem diferentes cirurgias para lutar contra a obesidade grave, todos têm ação voltada ao estômago (em alguns casos, também no intestino). Para resumir, essas cirurgias são baseadas em duas abordagens diferentes, uma que visa promover uma má absorção de alimentos e outra que impõe uma restrição da entrada de alimento.
Todas as técnicas de cirurgia em casos de obesidade utilizam a laparoscopia, um método cirúrgico sob anestesia geral que consiste em realizar pequenas incisões para executar diferentes operações (incluindo uma inspeção com uma pequena câmara). Com esta técnica não existe grandes incisões abdominais, ela deixa quase nenhuma cicatriz. A laparoscopia também tem a vantagem de produzir menos dor e recuperação mais rápida.
As principais cirurgias em casos de obesidade são a gastrectomia vertical, o bypass gástrico e anel gástrico.
– gastrectomia vertical (sleeve gastrectomia ou em inglês Vertical Sleeve Gastrectomy)
Tal como o nome sugere, o médico irá remover parte do estômago na direção longitudinal ou vertical. Esta cirurgia radical e irreversível e é especialmente indicada nos casos de obesidade muito avançados (com um IMC superior a 45, IMC> 45).
Esta cirurgia também pode ser chamada de sleeve gastrectomia.
Nessa forma de cirurgia para obesidade, não há interferência na absorção de minerais, mas o paciente ainda terá que tomar suplementos alimentares.
– Bypass gástrico e mini bypass gástrico
No bypass gástrico, o intestino delgado é “desligado”, deixado de fora (que é o significado da palavra bypass em inglês) do processo de digestão. Neste procedimento, o cirurgião vai ligar a parte superior do estômago diretamente com a porção média do intestino delgado (ex. jejuno). Assim como a gastrectomia vertical, é uma técnica radical e geralmente irreversível (a operação pode ser reversível, mas é complexa), é reservada para casos muito avançados de obesidade. Com esta técnica, a absorção intestinal é reduzida, também conhecido como má absorção intestinal. Esta técnica pode permitir uma redução maciça no peso. Ela é frequentemente recomendada para pacientes com um IMC superior a 45.
O bypass gástrico é a cirurgia para obesidade que permite a maior perda de peso média em 1 ano e 5 anos, a perda de até 40% do peso a longo prazo.
Note que pode haver variações na realização do bypass. Neste exemplo, o procedimento é o Roux-Y (RNY), em inglês também é chamado de BGYR para Roux-en-Y gastric bypass.
Há também uma cirurgia chamada de mini baypass gastrico, nesta técnica o cirurgião mantém uma parcela maior do estômago. Esta operação é reversível por laparoscopia.
No mini bypass gástrico, muitas vezes o paciente fica com deficiência de vitaminas (ex. vitamina D). Assim, suplementos alimentares são necessários, consulte o seu médico.
– anel ou banda gástrica (estômago)
Nesta cirurgia, o médico irá colocar um anel na parte superior do estômago. Isto resulta em um aparecimento de uma bolsa gástrica superior, como esta pequena bolsa fica cheia mais rapidamente (do que todo o estômago), o paciente irá se sentir saciado rapidamente. Esta técnica é utilizada em casos de obesidade moderada. Ela tem a vantagem de ser reversível e ajustável. Na verdade, é possível ajustar externamente o diâmetro do anel gástrico.
A cirurgia gástrica também pode ser chamada gastroplastia. Em inglês também conhecida como LAGB de laparoscopic adjustable gastric banding. Em francês o termo usado é anneau gastrique modulable .
Um efeito negativo deste método cirúrgico é que, a longo prazo, a perda de peso pode ser insuficiente. Existem também riscos de complicações.
Efeitos colaterais e complicações da cirurgia em casos de obesidade
Cada cirurgia pode levar a complicações. Um efeito colateral que muitas vezes surge é o refluxo gastresofágico. De fato, como o estômago e em alguns casos o esfíncter superior do esôfago são afetados, o conteúdo ácido do estômago pode retornar para o esôfago. Outra complicação é o aparecimento de vómitos, especialmente no caso do anel gástrico.
Um estudo publicado em dezembro 2016 na revista científica British Journal of Surgery mostrou que o bypass gástrico por laparoscopia (em inglês laparoscopic gastric bypass) muitas vezes levou a distúrbios gastrointestinais. Este estudo incluiu 249 pacientes obesos que realizaram uma cirurgia e 295 pessoas obesas que não realizaram uma cirurgia, atuando como um grupo controle. Todos responderam um questionário, aqueles operados responderam após 2 anos da cirurgia bariátrica. Os pacientes operados relataram frequentemente sofrer de indigestão e intolerância alimentar, especialmente com alimentos ricos em açúcar, gordura e carne vermelha. Detalhadamente: 70,7% dos pacientes operados disseram que sofriam de intolerância alimentar contra 16,9% no grupo controle.
Conselhos a serem seguidos após a cirurgia
Primeiro você deve respeitar todas as recomendações dadas pelo seu médico. Uma dica importante é adotar uma dieta saudável e equilibrada. O paciente deve evitar ao máximo o consumo de alimentos ou bebidas açucarados, tais como refrigerantes, e limitar ingestão de gorduras. Dar preferência para o consumo de fruta, legumes e alimentos ricos em fibras. Um nutricionista pode ajudá-lo com estas mudanças nos hábitos alimentares. Esses conselhos vão ajudá-lo a evitar o ganho de peso nos meses ou anos após a cirurgia. Leia também uma entrevista com um médico que fornece conselhos práticos sobre o assunto.
Benefícios para a saúde
Além disso, a perda de peso pode ser benéfica, quase que mecanicamente, para algumas doenças reumáticas como a artrite, dores nas costas, etc. A cirurgia bariátrica tem um efeito positivo sobre muitas doenças, especialmente aquelas são crônicas.
Reumatismo
– Segundo um estudo publicado em 05 de abril de 2016 na revista especializada JAMA, uma porcentagem elevada de pacientes que sofrem de obesidade grave que realizaram cirurgia bariátrica (Roux-en-Y ou gastroplastia) apresentaram uma diminuição de dores e uma melhorada das funções física, como caminhar, durante os 3 anos seguintes à cirurgia. Sabemos que a obesidade é muitas vezes ruim para as articulações, causando doenças como a artrose.
Este estudo foi realizado pelo Dr. Wendy C. Kind da Universidade de Pittsburgh (Estados Unidos), incluiu 10 hospitais e contou com mais de 2.000 participantes.
Diabetes tipo 2
– Nós sabemos que pessoas obesas muitas vezes sofrem de diabetes tipo 2. Após a cirurgia bariátrica muitas vezes é observada uma redução desta forma de diabetes, ou seja, há uma maior estabilidade da glicemia. Um estudo norte-americano publicado em 2013 no Annals of Surgery mostrou os benefícios de uma cirurgia bariátrica na diabetes tipo 2 em pacientes obesos com um IMC superior a 35.
– Outro estudo norte-americano publicado em março 2014 mostrou que a cirurgia bariátrica é, de longe, a abordagem mais eficaz para controlar de forma duradoura a diabetes tipo 2 em pacientes obesos ou com sobrepeso. Sabemos que cerca de 80% dos 23 milhões de norte-americanos com diabetes também estão com sobrepeso ou obesos. Este estudo também mostrou que a cirurgia melhorou a qualidade de vida do paciente e reduziu a necessidade de tomar medicamentos para controlar os níveis de pressão sanguínea e de colesterol, em comparação com os tratados com terapia padrão. Os participantes que realizaram uma cirurgia bariátrica utilizaram significativamente menos tratamentos cardiovasculares e antidiabéticos. Seu estado mental também melhorou acentuadamente. Este estudo está publicado na versão online do New England Journal of Medicine.
Doenças cardiovasculares
Além disso, a cirurgia bariátrica reduz o risco de acidente vascular cerebral.
Gota
Segundo um estudo sueco da Universidade de Gotemburgo, as pessoas obesas que realizaram cirurgia bariátrica viram o seu risco de sofrer de gota diminuir 34% durante o monitoramento dos participantes, que durou 26 anos. Este estudo foi publicado em outubro de 2016 na revista especializada Annals of the Rheumatic Diseases.
Câncer
Os pacientes com obesidade grave (em inglês severe obesity) que foram submetidos a uma cirurgia bariátrica viram seu risco de desenvolver um câncer diminuir em pelo menos um terço, de acordo com um estudo da Universidade de Cincinnati (UC) nos Estados Unidos. Falamos de obesidade grave quando o IMC está acima de 35, cerca de 15 milhões de americanos sofrem de obesidade grave. Este grande estudo retrospectivo e de coorte foi conduzido sob a direção do Prof. Daniel Schauer da UC. Os pesquisadores examinaram os dados médicos de 22.198 pessoas submetidas à cirurgia bariátrica e 66.427 pacientes que não foram operados (sem cirurgia bariátrica) entre 2005 e 2012, com acompanhamento até 2014. Mais de 80% dos pacientes do estudo eram mulheres. Os resultados mostraram que os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica tiveram uma redução de 33% no risco de desenvolver câncer durante o acompanhamento. Em um comunicado de imprensa sobre o estudo publicado em 5 de outubro de 2017, o Prof. Schauer explica que a redução do risco de câncer após a cirurgia bariátrica foi particularmente significativa em casos de câncer de mama (após a menopausa), de câncer de endométrio, de câncer de pâncreas e de câncer de cólon. Por exemplo, a redução do risco de câncer de pâncreas foi 54% em pacientes que tiveram cirurgia bariátrica. A obesidade está associada a 40% de todos os cânceres diagnosticados nos Estados Unidos, de acordo com o Prof. Schauer. Este estudo foi publicado em 3 de outubro de 2017 na revista científica Annals of Surgery (DOI: 10.1097 / SLA.0000000000002525).
Taxa de mortalidade (expectativa de vida de pessoas obesas)
– A cirurgia bariátrica prolonga, a longo prazo, a vida das pessoas obesas. Este procedimento que muitas pessoas não se atrevem a tentar, teria reduzido pela metade a taxa de mortalidade em pacientes com obesidade grave, de acordo com um estudo publicado em 16 de janeiro de 2018 na revista científica JAMA (doi: 10,1001 / jama.2017.20513). O acompanhamento (follow-up) médio dos participantes foi em média de 4,5 anos. Os 3 tipos de cirurgia bariátrica realizados foram o bypass gástrico com o procedimento de Roux-En-Y, a LAGB (laparoscopic adjustable gastric banding) e a gastrectomia longitudinal.
– Um grande estudo publicado no início de setembro de 2019 mostrou que a cirurgia em caso de obesidade (bariátrica) realizada em pacientes com diabetes tipo 2 e com obesidade estava associada a um menor risco de morte e de eventos cardiovasculares graves. Esses pacientes também perderam mais peso, tiveram melhor controle sobre a diabetes, usaram menos medicamentos para tratar a diabetes e as doenças cardiovasculares do que aqueles que receberam atendimento médico habitual. Esse estudo observacional envolveu quase 2.300 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica e 11.500 pacientes correspondentes com características semelhantes e atendimento médico habitual. Os pacientes foram submetidos a um dos quatro tipos de cirurgia para perda de peso ou obesidade (também conhecida como cirurgia metabólica): bypass gástrica, gastrectomia vertical, banda gástrica ajustável (anel gástrico) ou derivação bileopancreática. Durante um período de oito anos, os pacientes submetidos à cirurgia da obesidade tiveram 40% menos chances de sofrer um evento cardiovascular, como eventos coronarianos, eventos cerebrovasculares, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial ou doença renal, em relação a aqueles recebendo cuidados médicos habituais. Os pacientes do grupo cirúrgico tiveram 41% menos chances de morrer por qualquer causa. Os resultados deste estudo realizado pela Cleveland Clinic foram apresentados em 2 de setembro de 2019 no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia e publicados simultaneamente no Journal of the American Medical Association (DOI: 10.1001 / jama.2019.14231). Quase 40% dos americanos sofrem de obesidade, que está ligada à diabetes tipo 2, doenças cardíacas e derrames. Os adultos com diabetes têm duas a quatro vezes mais chances de morrer de doenças cardíacas do que adultos não diabéticos.
Referências:
JAMA, British Journal of Surgery, Annals of Surgery (DOI : 10.1097/SLA.0000000000002525), JAMA (doi: 10,1001 / jama.2017.20513), Journal of the American Medical Association (DOI: 10.1001 / jama.2019.14231).