Vamos falar sobre um assunto que muitas vezes é tratado como tabu, as secreções vaginais! Toda mulher já parou para se perguntar, será que essa secreção é normal? Será que devo procurar atendimento médico?
Nós do Criasaude entrevistamos a ginecologista obstetra Dra.Laura Lúcia Martins (CRM 17778-PR), criadora da campanha de saúde íntima feminina Saia com Saia., sobre o que é normal e anormal em relação às secreções vaginais e compilamos em 4 pontos essenciais que toda mulher precisa saber sobre secreções vaginais.
1) Quando se preocupar com a secreção vaginal?
Nosso corpo é como um clube exclusivo, com seguranças em todas as portas de entrada. No ouvido, temos a cera; na boca, a saliva; no nariz, o muco; e, na vagina, também temos nossas secreções naturais protetoras.
A secreção natural do canal vaginal é clara, branca ou amarelo clarinho e mais espessa, não escorre. Quando aparece na calcinha, é discreta e não causa incômodos. Após um banho, o cheiro desaparece, e ela não causa coceira, ardência, ou qualquer desconforto. Mantém sua coloração natural.
Quando há alguma invasão em nosso organismo, por vírus ou bactérias, ou um desequilíbrio da microbiota vaginal essa secreção natural muda as suas características, é o que chamamos de corrimento. O corrimento vaginal, é uma secreção anormal, diferente da secreção natural de proteção, geralmente tem uma cor mais escura ou amarelo forte parecendo pus e um mau odor. Muitas vezes o corrimento está associado a coceira, ardência, dor ao urinar, dor no baixo ventre ou dores relações sexuais.
Para identificar a diferença entre a secreção natural e o corrimento, lembre-se: a secreção natural não dá trabalho, enquanto o corrimento sempre traz desconforto, seja no cheiro ou nas dores, como explica a ginecologista Dra. Laura Lucia.
Se você perceber qualquer secreção que persiste por vários dias e vem com algum incômodo, seja ele coceira, ardência, odor desagradável, dor ao urinar, dor no baixo ventre ou desconforto abdominal, é hora de procurar atendimento ginecológico, é o que recomenda a Dra. Laura.
2) As secreções vaginais mudam ao longo do ciclo menstrual?
A vagina é incrivelmente sensível às oscilações do ciclo menstrual. Ao longo desse período, os hormônios sexuais femininos, como o estrogênio e a progesterona, têm altos e baixos, como um emocionante passeio de montanha-russa. A resposta da vagina a essas mudanças inclui a produção de muco cervical, que desempenha um papel fundamental na fertilidade.
Esse muco cervical é como o tapete vermelho para os espermatozoides, fornecendo um caminho mais fácil para eles nadarem em direção ao óvulo. À medida que o mês avança, a textura e a cor desse muco mudam. Logo após a menstruação, ele tende a ser mais escuro e, gradualmente, clareia. No meio do ciclo, pode assemelhar-se a uma clara de ovo, com uma textura mais pegajosa. À medida que se aproxima da menstruação, ele volta a ficar mais branco e, por fim, um tom amarelinho, marcando o fim do ciclo.
No entanto, é importante observar que essas mudanças ocorrem principalmente para pessoas que não estão usando contraceptivos hormonais. Aquelas que utilizam métodos contraceptivos hormonais não experimentam essas flutuações hormonais, já que seus corpos não ovulam, evitando assim gravidezes indesejadas1.
3) O que muda com a idade?
Quando uma mulher entra na menopausa, é sinal de que seus ovários encerraram a produção de estrogênio, o hormônio feminino. Isso acontece porque não restam mais folículos ou óvulos. Como resultado, a vagina passa por algumas transformações.
Sem a ação do estrogênio, a vagina torna-se mais seca, fina e perde parte de sua elasticidade natural. Isso ocorre porque a vagina possui muitos receptores sensíveis a hormônios femininos. Com a menopausa, esses hormônios deixam de atuar na vagina.
Essas mudanças podem afetar a saúde íntima e o conforto, mas é importante destacar que existem opções médicas disponíveis, como hidratantes vaginais, lubrificantes, terapia hormonal, entre outros cuidados e tratamentos que podem ajudar a aliviar desconfortos e melhorar a qualidade de vida durante a menopausa2.
4) Quais são as principais infecções que causam alteração nas secreções vaginais?
Como vimos anteriormente, nem toda alteração nas secreções vaginais é causada por uma infecção, mas a mudança na secreção vaginal pode ser um sintoma de infecções e deve ser investigada.
Cada tipo de infecção tem características distintas que podem ajudar a identificá-las. Aqui estão algumas das principais infecções que afetam as secreções vaginais e suas características:
Candidíase: é uma infecção causada por fungos, geralmente pela Candida Albicans. É um fungo que já existe em pequenas quantidades no organismo da mulher normalmente e que pode sair do equilíbrio com a flora vaginal gerando uma infestação, esta infestação também pode ser transmitida através de relação sexual.
Características da secreção: Secreção espessa e branca, semelhante a coalhada ou queijo cottage.
Outros sintomas: Coceira intensa, vermelhidão, inchaço e dor durante as relações sexuais.
Como tratar: antifúngicos na forma de creme vaginal (ex.clotrimazol, entre outros) ou comprimido oral (ex. fluconazol, entre outros), tratamentos naturais e alimentação.
Vaginose bacteriana: é uma infecção causada por bactérias que são encontradas na flora vaginal naturalmente, mas que por algum motivo saem do equilíbrio e se proliferam em grande quantidade. Também pode ser transmitida através de relação sexual sem proteção.
Características da secreção: secreção fina, acinzentada ou esbranquiçada.
Outros Sintomas: odor de peixe, coceira e irritação, principalmente após a relação sexual.
Como tratar: geralmente tratado com antibiótico metronidazol, na forma de creme vaginal ou comprimido oral.
Clamídia: infecção causada pela bactéria Chlamydia trachomatis geralmente através de contato com secreções infectadas, é uma doença sexualmente transmissível.
Características da secreção: a clamídia pode não causar alterações nas secreções em todos os casos. No entanto, algumas pessoas podem apresentar secreção amarelada ou esverdeada.
Outros sintomas: muitas pessoas nunca apresentam sintomas, mas outros sintomas que podem surgir são dor ao urinar e feridas.
Como tratar: antibióticos orais (ex. doxaciclina e axitromicina)
Gonorreia: infecção causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, também chamada de gonococo. É uma doença sexualmente transmissível.
Características da secreção: a gonorreia pode ser assintomática, mas também pode levar a secreção espessa e amarelada ou esverdeada.
Outros sintomas: pode ser assintomática, mas também pode causar dor abdominal, dor ao urinar e sangramento entre os períodos.
Como tratar: antibióticos por via oral ou por injeção.
Tricomoníase: é causada por um protozoário chamado Trichomonas vaginalis. É uma das infecções sexualmente transmissíveis mais comuns.
Características da secreção: secreção espumosa, verde, amarela ou cinza, frequentemente com um odor desagradável.
Outros sintomas: coceira intensa, dor durante a relação sexual e inflamação da vulva.
Como tratar: antibióticos orais (ex.: metronidazol ou tinidazol)
Lembre-se que é importante procurar atendimento médico quando suspeitar de que as secreções estão anormais, principalmente em caso de suspeita de infecção, para que seja feito o devido diagnóstico e a recomendação do tratamento mais adequado 3.
Data de publicação:
22.11.2023
Redação
Adriana Sumi (farmacêutica)
Fontes & Referências
Entrevista realizada pelo Criasaude em novembro de 2023 com a ginecologista obstetra Dra.Laura Lúcia Martins (CRM 17778-PR), criadora da campanha de saúde íntima feminina Saia com Saia
Artigo em inglês da Cleveland Clinic: Vaginal Discharge Color: What’s Normal and What Isn’t, de 29 de julho de 2023, acessado pelo Criasaude em 07 de novembro de 2023, link funcionando nesta data.
Bibliografia e referências científicas:
- Entrevista realizada pelo Criasaude em novembro de 2023 com a ginecologista obstetra Dra.Laura Lúcia Martins (CRM 17778-PR), criadora da campanha de saúde íntima feminina Saia com Saia
- Entrevista realizada pelo Criasaude em novembro de 2023 com a ginecologista obstetra Dra.Laura Lúcia Martins (CRM 17778-PR), criadora da campanha de saúde íntima feminina Saia com Saia
- Artigo em inglês da Cleveland Clinic: Vaginal Discharge Color: What’s Normal and What Isn’t, de 29 de julho de 2023, acessado pelo Criasaude em 07 de novembro de 2023, link funcionando nesta data