MIAMI, EUA – Um estudo genético divulgado no dia 25 de Agosto mostrou uma ligação entre os baixos níveis de vitamina D e maior risco de desenvolvimento de esclerose múltipla (EM). Esta ligação fornece novas alternativas para tratamento da doença que, atualmente, não tem cura e é de difícil prevenção.
Estudos anteriores já haviam mostrado uma ligação entre os níveis de vitamina D, que é gerada pela luz ou ingerida em certos alimentos, e a esclerose múltipla, uma doença autoimune degenerativa que afeta o sistema nervoso central e a medula espinhal. Entretanto, esses mesmos estudos não demonstraram que baixos níveis de vitamina D levavam à EM, e mostravam apenas que os doentes tendiam a se expor menos à luz solar.
Risco duas vezes maior
As pessoas com níveis mais baixos de vitamina D tinham um risco duas vezes maior de desenvolver EM, normalmente diagnosticado entre as idades de 20 e 50 anos.
“Os bebês que nascem com genes associados com a deficiência de vitamina D foram duas vezes mais propensos a desenvolver EM em fase adulta “, diz o Dr. Benjamin Jacobs, diretor da da pediatria do Hospital Royal National Orthopedic, em Londres.
Segundo o Dr. Jacobs, que não contribuiu para o estudo, a descoberta relatada no estudo é significativa. Isso mostra que a vitamina D participa de interações genéticas complexas e que sua deficiência pode levar ao surgimento de diversas síndromes.
Uso preventivo de vitamina D
De acordo com o Dr. Jacobs, ainda não se sabe se a suplementação com vitamina D em crianças reduzirá o risco de desenvolvimento de EM, entretanto, estudos clínicos estão em andamento para testar essa hipótese.
A EM é uma doença crônica que afeta cerca de 2,3 milhões de pessoas no mundo, alterando a visão e a fala, causando tremores, fadiga extrema, problemas de memória e paralisia.
A esclerose múltipla no Brasil
De acordo com Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e o Ministério da Saúde, a doença atinge 35 mil pessoas no Brasil, sendo que a incidência é maior no Sul e Sudeste do país. No dia 30 de agosto, comemora-se o Dia Nacional de Conscientização da Esclerose Múltipla.
A doença ainda é pouco conhecida do público e muito associada a outros problemas mentais, como demência, mal de Alzheimer ou até mesmo esquizofrenia. A falta de informação da população leva ao atraso no diagnóstico e no tratamento, além de gerar preconceito entre familiares e conhecidos do paciente.
A EM é uma doença autoimune em que anticorpos do próprio paciente atacam a bainha de mielina, que é o revestimento dos neurônios. A bainha de mielina tem função importante na condução dos impulsos nervosos e sem esse isolamento, o impulso é comprometido, de maneira a prejudicar funções do corpo.
Normalmente a perda da visão em um dos olhos é um dos primeiros sintomas. Seguem a isso formigamento em membros, perda de movimento e problemas de memória. O diagnóstico é feito por um neurologista, que realiza diversos exames para excluir outras possíveis causas.
A doença não tem cura e os tratamentos buscam melhorar as funções fisiológicas do paciente (movimento, formigamento, etc). Embora os novos medicamentos não curem a doença, eles modificam sua evolução, ou seja, reduzem os ataques agudos da EM, restabelecem funções do paciente e retardar a neurodegeneração. Porém, sua eficácia é limitada e alvo de intensos estudos clínicos.
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30 de agosto de 2015. Texto originalmente escrito por Xavier Gruffat (farmacêutico), traduzido e modificado por Matheus Malta de Sá (farmacêutico USP). Fontes: PLOS, ABN e Ministério da Saúde. Fotos: Fotolia.com.