A maioria dos estudos nos mostram que o excesso de peso, e em parte a obesidade (IMC acima de 30) são ruins para a saúde. As pessoas obesas sofrem mais frequentemente de diabetes, de doenças cardiovasculares, de câncer ou de reumatismo que o resto da população. A obesidade também pode afetar a psique e a vida social, com por exemplo a discriminação no local de trabalho que indivíduos obesos podem sofrer. No entanto, a ciência nos reservou algumas surpresas interessantes, uma delas é chamada pelo nome de “paradoxo da obesidade” (em Inglês “obesity paradox”). Isto significa que em algumas situações, alguns (poucos) quilos extras podem ser benéficos à saúde por diminuir a taxa de mortalidade. Mas lembre-se que a obesidade grave (IMC maior ou igual a 35) quase sempre é nociva à saúde. Este artigo foca-se mais em pessoas com um IMC entre 25 e menos de 35 (obesidade moderada).
Estudo sueco com gêmeos, a “neutralidade da obesidade”
Antes de detalhar a lista de várias doenças, incluímos um estudo sueco publicado em agosto de 2016 realizado com gêmeos monozigóticos ou gêmeos verdadeiros, que fornece informações interessantes. Na realidade não se trata do “paradoxo da obesidade”, mas sim da “neutralidade da obesidade” sobre a taxa de mortalidade. De fato, este estudo mostrou que entre os gêmeos com sobrepeso e obesidade, um dos gêmeos que teve o maior IMC não apresentou uma taxa de mortalidade maior ou um acréscimo no risco de ataque cardíaco em comparação com seu irmão ou irmã mais magro. No entanto, os investigadores suecos mostraram que o gêmeo que tinha o maior IMC, portanto com mais sobrepeso ou obeso, sofria mais de diabetes do que o seu irmão ou irmã mais magro.
Mais de 4.000 pares de gêmeos, com uma diferença significativa de peso entre cada indivíduo do par, foram incluídos na pesquisa.
Este estudo foi realizado pela Universidade de Umeå, na Suécia, e publicado na revista JAMA Internal Medicine em agosto de 2016 (todas as referências dos estudos encontram-se na parte inferior desta seção com links principalmente para o PubMed).
Para retornar mais especificamente para o “paradoxo da obesidade”, aqui estão vários estudos recentes (dos últimos 2 anos, principalmente) que mostram que para pelo menos sete doenças, ter alguns quilos a mais pode reduzir a taxa de mortalidade.
Este estudo foi conduzido por pesquisadores de Oakland (Califórnia) da Kaiser Permanente, uma grande organização dona de hospitais e que também atua como uma seguradora de saúde. De acordo com os pesquisadores californianos, as pessoas com sobrepeso ou obesas têm um risco maior de sofrer de câncer. Mas, paradoxalmente, uma vez diagnosticadas (pelo menos para o câncer colorretal), o prognóstico é geralmente melhor do que para pacientes com peso normal.
Os investigadores examinaram dados de 3.408 homens e mulheres diagnosticados em estágios 1 a 3 de câncer colorretal entre 2006 e 2011, residentes do norte da Califórnia. Neste estudo, uma pessoa foi considerada com peso normal se o seu IMC fosse entre 18,5 e 23.
Os resultados mostraram que os pacientes que tinham um IMC abaixo de 18,5 e aqueles com obesidade grave (IMC igual a 35 ou maior) tiveram uma taxa de mortalidade maior do que aqueles com peso normal. Os pacientes com um IMC entre 28 e 30, isto é, claramente com sobrepeso e no limite para obesidade, apresentaram 55% menos risco de mortalidade por câncer colorretal do que aqueles com peso normal. Este estudo foi publicado em 19 de maio de 2016 na revista científica JAMA Oncology.
Para o Dr. J. Caan, que liderou esta pesquisa, os mecanismos por trás desse “paradoxo da obesidade” ainda não são conhecidos e exigem um estudo mais aprofundado.
O Dr. Caan observou, interessantemente, que o peso ideal de um indivíduo pode diferir de um tipo de indivíduo para outro. Por exemplo, uma pessoa saudável deve, talvez, mirar um peso normal para prevenir o câncer, enquanto uma pessoa com câncer colorretal poderia mirar o sobrepeso, portanto um IMC entre 25 e 30. Mais pesquisas são necessárias para compreendermos melhor este problema.
2. Insuficiência cardíaca (heart failure em inglês). Estudos têm demonstrado que a obesidade, por vezes, tem um efeito protetor na insuficiência cardíaca. Um estudo publicado em janeiro 2016 na revista Journal of Obesity constatou que há um consenso crescente entre os cientistas, indicando que a obesidade pode estar associada a um melhor prognóstico na insuficiência cardíaca. Este estudo foi conduzido, principalmente, por pesquisadores da Universidade de Maryland (EUA). No entanto, eles revelam que ainda não estão completamente certos destes efeitos benéficos, pois de acordo com suas pesquisas, o viés estatístico poderia ser a causa deste fenómeno paradoxal. Eles sugerem realizar mais pesquisas.
O que se torna cada vez mais unânime entre os cientistas é que a obesidade aumenta o risco da maioria das doenças cardiovasculares, como infarto do coração. A insuficiência cardíaca pode ser uma exceção e não a regra.
3. Cirrose. Um estudo de abril de 2016 mostrou que a obesidade estava associada com uma taxa de mortalidade inferior à média em pacientes hospitalizados por cirrose. Este estudo realizado pela Universidade de Connecticut analisou mais de 30.000 pacientes. Os resultados mostraram que pacientes obesos com cirrose tiveram uma taxa de mortalidade mais baixa em comparação com pacientes não obesos com cirrose. Cientistas norte-americanos acreditam que os pacientes obesos com cirrose têm uma probabilidade maior de ter reservas nutricionais maiores, o que poderia desempenhar um papel na taxa de mortalidade. Este estudo foi publicado em 02 de abril de 2016 na revista especializada Liver International.
4. Doenças renais crônicas. A obesidade é um fator de risco importante no desenvolvimento de doença renal crónica (DRC), mas uma vez que a doença é adquirida, a obesidade, paradoxalmente, parece diminuir a mortalidade em comparação com as pessoas que não sofrem de obesidade. Em um estudo publicado em maio de 2016, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Irvine puderam mostrar através de uma análise de estudos (revisão) o efeito protetor da obesidade através da redução das taxas de mortalidade de DRC. A diminuição da taxa de mortalidade parece particularmente pronunciada em pessoas que passam por hemodiálise e sofrem de obesidade. Este estudo foi publicado em maio de 2016, pela revista Current Opinion in Nephrology and Hypertension.
5. Pneumonia. Os pacientes com sobrepeso e obesos tinham uma taxa de mortalidade significativamente menor durante uma pneumonia em comparação às pessoas com peso normal, de acordo com um estudo realizado em 2014. Este estudo de coorte foi publicado em Abril de 2014 no BMC Medicine. Os pesquisadores que realizaram este estudo apontam que mais estudos são necessários para entender melhor o efeito protetor ou não do sobrepeso e obesidade nas taxas de mortalidade em casos de pneumonia.
7. AVC. Vários estudos incluindo os Estados Unidos e Europa demonstraram que as pessoas com sobrepeso ou obesas tiveram uma taxa de sobrevivência maior após um AVC em comparação a pessoas com peso normal. Podemos citar um estudo publicado em 2015 que acabou de chegar a esta conclusão. Esta pesquisa também demonstrou que o risco para os pacientes obesos de sofrer novamente um AVC foi mais baixo do que para as pessoas com peso normal. Este estudo foi publicado em janeiro de 2015 na revista International Journal of Stroke. O estudo centrou-se na análise de milhares de dados de pacientes na Dinamarca que sofreram um AVC entre 2000 e 2010.
Nota: A lista das doenças mencionadas acima nunca estará finalizada, este artigo deve ser reavaliado ao longo do tempo e de acordo com novos estudos publicados sobre o assunto.
Podemos resumir (Takeaways): para uma pessoa saudável, a obesidade é quase sempre prejudicial. Em outras palavras, a obesidade aumenta o risco de várias doenças (por ex. câncer). Mas se uma pessoa tem uma doença como câncer ou diabetes tipo 2, muitos estudos mostram que o sobrepeso, e em certos casos a obesidade moderada, pode ter um efeito protetor e reduzir as taxas de mortalidade. Este é o “paradoxo da obesidade”.
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09.10.2016. Por Xavier Gruffat (farmacêutico, MBA). Fontes (referências): estudos científicos com as referências no PubMed. A pesquisa sobre gêmeos na Suécia: http://archinte.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=2540539. Estudo sobre o câncer colorretal: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27195485, http://www.smw.ch/content/smw-2015-14265/, Estudo sobre ataque cardíaco: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4745816/, Estudo sobre a cirrose: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27037497. Estudo sobre Doenças Renais Crônicas:http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26999023. Estudo sobre a pneumonia: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24722122. Estudo sobre a diabetes tipo 2: www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25938991. Estudo sobre o AVC: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25635277
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