Aedes aegypti
Introdução
O mosquito Aedes aegypti é conhecido desde a antiguidade e seu nome provém das junções “aedes”, que no grego que dizer odioso, e “aegypti”, que no latim quer dizer Egito. Seu nome é uma alusão ao papel do mosquito na transmissão de doenças para humanos.
Este é um mosquito da família Culicidae, proveniente da África, e que hoje em dia pode ser encontrado em diversas regiões tropicais e subtropicais, como locais na Ásia, América e ilhas do Pacífico. O Aedes aegypti, em especial, tem hábitos urbanos. O interesse pela biologia e ciclo de vida do mosquito tem crescido muito nos últimos anos, uma vez que ele é vetor de doenças como a dengue, a febre zika, a febre chikungunya, febre amarela, filariose, dentre outras.
Há mais de um tipo de mosquito do gênero Aedes, e eles transmitem diferentes doenças:
– Aedes aegypti: tipo mais conhecido no Brasil. É um mosquito urbano, responsável pela transmissão da dengue, febre chikungunya, febre zika, filariose e encefalite.
– Aedes africanus: é um mosquito silvestre, e ataca macacos. Transmite a febre amarela silvestre.
– Aedes pseudocutellaris: essa espécie vive nas ilhas do Pacífico, e transmite a filariose.
– Aedes canadensis: mosquito que vive na América do Norte, e transmite a encefalite equina.
– Aedes togoi: espécie do Japão e que transmite a filariose.
No Brasil, alguns nomes comuns do Aedes aegypti incluem mosquito da dengue e pernilongo-rajado.
O ciclo de vida do mosquito
Assim como muitos outros insetos, o mosquito Aedes aegypti começa seu ciclo de vida na água, passando, posteriormente, para uma forma de vida. Ao todo, são quatro fases de desenvolvimento: ovo, larva, pupa (fases aquáticas do mosquito), e adulto (fase terrestre). Cada fêmea do mosquito pode colocar cerca de 200 ovos, uma vez acasalada com o macho. O ovo é a fase mais resistente de vida do mosquito, pois pode sobreviver de 6 meses a 1 ano sem água.
É durante o acasalamento que a fêmea precisa de sangue para garantir o desenvolvimento dos ovos, e é nessa fase que acontece a transmissão de doenças através da picada. Diferente de outros mosquitos, a fêmea coloca seus ovos em vários locais, ao invés de um só, podendo ser na mesma casa ou não. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, os ovos não são colocados diretamente na água, mas sim, próximos a ela, aderidos à parede dos recipientes. Lá eles ficam até entrar em contato com a água, quando eclodem e começam o ciclo de desenvolvimento do mosquito.
Após a eclosão dos ovos, a próxima fase é de larva, que dura, em condições ideais (cerca de 25 a 30ºC), de 5 a 10 dias. Na água, a larva se alimenta de detritos orgânicos, pequenos protozoários, bactérias e fungos que vivem no local. A larva então se transforma em pupa, uma fase intermediária antes da fase adulta, que dura cerca de 2 dias.
Depois da fase pupal, o mosquito se desenvolve completamente e atinge a fase adulta, onde sai da água e começa a voar. É durante esse período que a transmissão de doenças acontece
A fase adulta e a transmissão de doenças
É durante a fase adulta, mais especificamente durante a picada, que o mosquito transmite doenças. A fêmea é a única responsável por transmitir a doença, pois apenas elas necessitam de sangue para o desenvolvimento dos ovos. Os machos, em contrapartida, se alimentam de frutas.
O mosquito Aedes aegypti apresenta boa adaptação ao meio urbano, sendo muito presente em cidades e áreas não rurais. Ele tem preferência por ficar em ambientes fechados, como casas e apartamentos, e voar a baixas alturas, embaixo das mesas, próximo ao chão. Isso explica porque as picadas do Aedes ocorrem normalmente nas pernas e pés.
Ao picar, o contato do sangue do paciente com a saliva do mosquito faz com que a transmissão acontece. O vírus pode ficar no interior do mosquito e ser transmitido para outras pessoas, propagando a infecção.
Habitats do mosquito
A fêmea põe os ovos em locais de água limpa e parada. As epidemias de doenças transmitidas pelo mosquito (dengue, zika, chikungunya, etc) ocorrem normalmente durante as fases chuvosas, como na primavera e no verão. As temperaturas em torno dos 30ºC e o aumento das chuvas favorecem a deposição de ovos e o desenvolvimento do inseto.
Os locais preferidos do mosquito são onde a água pode ser acumulada, como calhas, canos, vasos, reservatórios de água, galões, lajes, bromélias, cisternas, pneus e demais outros lugares onde a água possa ficar parada. Piscinas não são o local favorito do mosquito, a não ser que estejam abandonadas. A fêmea também não coloca ovos em aquários, uma vez que as larvas podem ser alimentos para os peixes.
A indicação principal para interromper o ciclo de desenvolvimento do mosquito é não deixar que água se acumule ou cobrir os possíveis locais onde o mosquito pode colocar os ovos. O uso de cloro e água sanitária não garante a interrupção do ciclo do mosquito. Também não há comprovação científica sobre a eficácia do uso de pó de café em vasos de plantas, portanto, é prudente não confiar nessas ações para eliminar as larvas.
Medidas para evitar a picada do mosquito
Além de evitar que a fêmea coloque os ovos em água limpa e parada, outras medidas que as pessoas usam incluem uso de velas de andiroba e citronela e fumo de rolo para espantar o adulto, entretanto, há controvérsias sobre essas técnicas.
O uso de vitaminas do complexo B tem sido apontado como uma medida complementar para evitar a picada do mosquito. As vitaminas B alteram a composição do suor, o que ajudaria a afastar o mosquito. Esse fato tem sido relatado na literatura médica como eficaz para alguns casos, entretanto, há controvérsias sobre sua eficácia no caso do Aedes aegypti.
O frio e vento fortes também ajudam a espantar a fêmea adulta do Aedes. Portanto, ar condicionado e ventiladores ajudam a evitar picadas.
Uma medida simples que muitas pessoas adotam é o uso de telas em janelas e portas para evitar que o mosquito entre em casas. Embora limitada, essa técnica é eficaz em locais onde não há ar condicionado.
O uso de repelentes também tem sido indicado como importante no combate à transmissão de doenças. Os produtos com DEET formam uma camada protetora sobre a pela que dura por horas, e é ideal para uso durante a noite, antes de dormir. Para gestantes, algumas substâncias são apontadas como seguras, como o IR3535 e icaridina. Alguns repelentes com substâncias como MGK e PVO potencializam o DEET. Médicos sugerem que os repelentes sejam usados com cautela, sobretudo em gestantes, crianças e idosos, uma vez que eles podem causar irritação na pele e problemas dermatológicos. Além disso, o uso indiscriminado pode levar à resistência dos mosquitos aos repelentes. O mais indicado é conversar com o seu médico sobre a melhor indicação.
O uso de inseticidas é ainda alvo de discussão na comunidade científica. Eles têm eficácia limitada, uma vez que já foi reportado o aparecimento de resistência de linhagens de mosquitos aos inseticidas mais comuns. Além disso, há debates sobre os danos do uso massivo desses produtos para o meio ambiente.
Doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti
No Brasil, as principais doenças são a febre amarela, a dengue, a febre zika e a febre chikungunya. Elas são semelhantes na sintomatologia, ocasionando febre picos de febre alta e dores musculares e nas juntas.
As formas graves da doença incluem formas hemorrágicas, com sangramentos em gengivas e mucosas. Recentemente, evidências têm mostrado que o vírus zika pode causar microcefalia. Esse fato alertou as agências de saúde do Brasil, que estão a investigar a relação entre a infecção pelo vírus zika e malformações em neonatos. Aparentemente, o virus zika parece penetrar na fazenda e atingir o sistema nervoso do feto, causando malformações neurológicas, que levam à microcefalia.
Apesar do parecer haver uma correlação entre as infecções causadas por zika e o aumento do número de casos de microcefalia, há ainda muita controvérsia sobre o tema. Muitos médicos acreditam que o vírus não é realmente o responsável por essa condição, ao passo que outros advogam que a microcefalia é realmente causada pela picada do Aedes aegypti. Além da microcefalia, a infecção por zika vírus pode desencadear uma síndrome muito rara, conhecida como Síndrome de Guillain-Barré, responsável por fraqueza muscular e paralisia dos músculos. Há relatos dessa síndrome com infecções pelo vírus da dengue e da febre chikungunya.
Apesar do surgimento dos casos de microcefalia e zika, além da febre chikungunya, a doença mais grave transmitida pelo Aedes aegypti é ainda a dengue. No Brasil há, atualmente, 4 sorotipos circulantes da doença, conhecidos como DEN1, DEN2, DEN3 e DEN4. Recentemente um novo tipo de vírus foi identificado, o DEN5, mas este ainda não se encontra circulante no Brasil, segundo as autoridades de saúde.
Além dos sintomas muito incômodos da dengue, o pior quadro da doença é a hemorragia, que pode ser fatal. Ela pode levar a sangramentos sucessivos em mucosas e órgãos internos, cianose, rápida queda de pressão, problemas no fígado, dificuldades respiratórias, manchas na pele, e, em último caso de sangramento extremo, morte.
Diagnóstico das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti
O exame é caro e feito apenas em alguns locais do país. Para a zika, os exames podem ser feitos nos chamados Laboratórios Centrais, localizados nos estados da Alagoas, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Sergipe. Devido ao alerta de microcefalia causada por zika vírus, os exames são coletados de preferência dentro dos cinco primeiros dias da manifestação da doença e enviado a um laboratório.
Tratamentos disponíveis
Atualmente, não há vacinas para os vírus da dengue, zika e chikungunya. Há vacinas para a febre amarela elaboradas com o vírus atenuado.
O tratamento é sintomático e visa a melhora dos sintomas de febre, dores, mal estar, vômito, etc. Uma recomendação importante para as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti é a ingestão constante de líquidos, água de preferência. Também é contraindicado o consumo de qualquer medicamento com ácido acetilsalicílico (como a aspirina e outros analgésicos), devido ao aumento do risco de hemorragia.
Genoma do Aedes aegypti
Em abril de 2016, o genoma do Aedes aegypti ainda não estava perfeitamente mapeado, como indica um artigo do The New York Times datado de 1o de abril de 2016. A partir do início de 2016, vários pesquisadores, especialmente americanos e ingleses, estão trabalhando para alcançar um mapeamento mais apurado e uma melhor compreensão sobre o genoma deste mosquito. Em 2007, um mapeamento do genoma do Aedes aegypti que contabilizou 3 cromossomos e 1,3 bilhões de bases ou letras de DNA fora publicado, mas os pesquisadores identificaram imperfeições neste mapeamento. A origem deste mapeamento incompleto provém principalmente de uma escassez de meios financeiros. Com a crise mundial de 2015/2016 envolvendo o vírus Zika, a situação parece ter mudado e os cientistas dispõem de mais recursos para levar a cabo um mapeamento mais preciso.
Conhecer melhor o genoma deve ajudar os pesquisadores a entender melhor, por exemplo, por que o mosquito Aedes aegypti, ainda que seja transmissor de um vírus como o Zika, não parece ser afetado. Em outros termos, saber por que o mosquito adquire resistência a este vírus e não algumas células humanas, por exemplo.
Fontes: Ministério da Saúde, Sanofi Brasil, The New York Times.
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