A ingestão de óleos essenciais tem se tornado uma prática cada vez mais popular no campo da aromaterapia. Os óleos essenciais são substâncias concentradas extraídas de plantas e possuem propriedades terapêuticas diversas. No entanto, é importante ressaltar que a ingestão de óleos essenciais não é regulamentada em muitos países. Afinal, podemos ingerir óleo essencial?
SIM, apesar da resposta ser simples, isso NÃO significa que todo óleo essencial (OE) pode ser ingerido, por qualquer pessoa, que necessariamente possuem efeitos terapêuticos e que são seguros.
Para te ajudar na escolha de ingerir ou não OEs o Criasaude foi atrás da literatura e estudos científicos sobre o assunto e entrevistou a terapeuta naturopata Manoella Mignone, que é professora de yoga e educadora ambiental, trabalha com Agroecologia e Permacultura, com foco em plantas medicinais. É também uma das fundadoras e idealizadoras da Coletiva Caminho Natural, do Movimento Muda SP e da Empresa Dádiva Elementar Cosméticos.
O que são os óleos essenciais
Os óleos essenciais (OEs) são substâncias extraídas de plantas obtidas através de destilação por arraste a vapor de partes da planta ou esmagamento de partes do fruto, no caso de frutas cítricas. Também chamados de óleos voláteis, devido a sua facilidade de evaporar, são misturas complexas de substâncias lipofílicas, líquidas, incolores ou ligeiramente amareladas, que possuem como característica básica o cheiro e o sabor1.
Para algumas plantas já existem comprovações com estudos científicos sobre seus efeitos terapêuticos principalmente com a utilização através da inalação ou uso tópico (na pele), porém existem pouquíssimos estudos científicos sobre a ingestão de óleos essenciais, porém seu uso tradicional através dessa via é feito há centenas de anos.
Ingestão de OEs
A realidade é que no nosso dia a dia muitas vezes já ingerimos óleos essenciais através de alguns alimentos, principalmente industrializados, sendo os óleos essenciais utilizados para dar sabor a determinados alimentos.
Na opinião e experiência da terapeuta naturopata Manoella Mignone, a ingestão de óleos essenciais pode ajudar na recuperação de diversos problemas de saúde, mas assim como em outras formas de uso das plantas medicinais (ex. chás e tinturas) é necessário ter alguns cuidados e precauções2:
– Saber os prós e contras do uso da planta e do óleo essencial. É fundamental realizar uma pesquisa detalhada sobre cada óleo essencial antes de consumi-lo. Alguns óleos essenciais são contraindicados para mulheres grávidas, lactantes, crianças pequenas e pessoas com certas condições médicas. Você pode procurar profissionais de saúde que tenham aprofundado os estudos nessa área para te orientar.
– Verificar a procedência do OE, prefira óleos essenciais orgânicos e sempre certificados, existe muita adulteração de OE.
– Atentar-se para o nome científico da planta, só através do nome científico é possível confirmar realmente a planta que você está consumindo pois os nomes populares variam muito de uma região para outra.
– Diluir o OE corretamente. O óleo essencial não dilui em água. Você pode diluir em um pouco de álcool próprio para ingestão (ex. álcool de cereais), tintura ou extrato vegetal hidroalcóolico, óleo vegetal (ex. óleo de coco ou oliva) e no mel. Geralmente em dosagem muito baixa (o OE é extremamente concentrado), como por exemplo 1 gota para 1 colher de sopa de óleo vegetal.
O óleo essencial é uma das diversas formas possíveis de utilização de plantas medicinais, também é possível utilizar através de infusões (chá), tinturas, pomadas, xaropes, entre outros. É importante lembrar que “toda planta tem esse potencial de toxicidade se ela tem a presença de princípios ativos medicinais, é tudo uma questão de dosagem e de conhecimento da melhor maneira de se beneficiar do uso dessa planta medicinal” salienta a naturopata Manoella Mignoni, lembrando que terapeutas ou médicos especialistas nessa área, como aromaterapeutas, fitoterapeutas, naturopatas podem auxiliar nessa escolha.
Riscos
Um dos principais riscos em relação a ingestão de OE se dá devido a crescente propaganda dos “benefícios” da ingestão aleatória de óleos essenciais realizada por pessoas ligada às empresas que os comercializam, que muitas vezes estão visando o aumento do consumo de seus produtos, como mostra o episódio “Óleos essenciais” da série de documentários “Indústria da Cura” produzido pela Netflix em 2021.
A ingestão incorreta de óleos essenciais em alguns casos pode causar vários problemas, incluindo queimaduras no esôfago, reações cutâneas, hepatotoxicidade, e outras consequências de intoxicações. Além de alguns OE também terem potencial abortivo.
O que a ciência e órgãos reguladores dizem
A ingestão de OEs é estudada por muitos profissionais de saúde há anos em diversos países e possui uma literatura médica e farmacêutica com indicações de uso interno dos OEs há mais de 50 anos, principalmente na França3.
Existem estudos científicos que comprovam a eficácia terapêutica de diversos óleos essenciais, principalmente na forma inalada e tópica em humanos4.No entanto, existem poucos estudos científicos realizados e mesmo esses são em escalas muito pequenase em animais, sendo ainda necessários estudos maiores e em humanos.
Em muitos países, como nos Estados Unidos e Brasil, os óleos essenciais não são regulamentados como medicamentos e sim como cosméticos ou insumo alimentício. No Brasil, a aromaterapia foi incluída no SUS(Sistema Único de Saúde) em 2018, sendo uma prática disponível para a população no cuidado da saúde. Apesar da atividade terapêutica dos OEs já ser reconhecida, ainda que não haja regulamentação para que os OEs sejam comercializados com finalidade terapêutica e possam ser prescritos por profissionais de saúde para uso interno.
Resumindo, a ingestão de óleos essenciais tem um potencial de oferecer benefícios, apesar de alguns entraves regulamentares em alguns países. Assim como outras formas de ingestão de plantas medicinais.
É importante adquirir óleos essenciais de qualidade, obter orientação sobre seu uso (ex. profissionais capacitados), respeitar as dosagens recomendadas, diluir corretamente e estar ciente das contraindicações. Lembrando que o uso de óleos essenciais não deve substituir consultas médicas e tratamentos prescritos.
Fontes e Referências
Entrevista realizada pelo Criasaude em junho de 2023 com a terapeuta naturopata Manoella Mignone, que é também professora de yoga e educadora ambiental. Trabalha com Agroecologia e Permacultura, com foco em plantas medicinais. É também uma das fundadoras e idealizadoras da Coletiva Caminho Natural, do Movimento Muda SP e da Empresa Dádiva Elementar Cosméticos.
Nota da Associação Brasileira de Aromaterapia e Aromatologia – ABRAROMA, INGESTÃO DE ÓLEOS ESSENCIAIS. Posicionamento da ABRAROMA, publicada em 02 de julho, link acessado pelo Criasaude.com.br em julho de 2023.
SIMÕES, C. M. O.; SPITZER, V. Óleos voláteis. In: (org.). SIMÕES, C. M. O.; SCHENKEL, E. P.; GOSMANN, G.; MELLO, J. P. C.; MENTZ, L. A.; PETROVIK, P. R. (orgs.). Farmacognosia: da planta ao medicamento. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. p. 467-495.
Referências de estudos: mencionadas no artigo ou abaixo
11.07.2023
Redação
Adriana Sumi (farmacêutica)