Desde 2023 a América Latina vem sendo afetada por números alarmantes de casos de dengue, sendo o Brasil o país que concentra o maior número de casos. Com a chegada de temperaturas mais altas no hemisfério norte devido à mudança de estação e às mudanças climáticas (ex. El Niño), países como Estados Unidos, França e Reino Unido já apresentam um aumento significativo de casos de dengue1. A França, que já registra recorde de casos de dengue “importada”2, e que está há menos de 2 meses de receber um fluxo gigantesco de atletas, turistas e trabalhadores para as Olimpíadas de 2024 é um dos países em alerta em meio a Europa, que geralmente não registra muitos casos de dengue.
A dengue é uma infecção viral transmitida através da picada de mosquitos, principalmente pelo Aedes aegypti, infectado. Os principais sintomas são febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, fadiga e enjoo; nos casos de dengue severa é possível ter manchas avermelhadas pelo corpo, dor abdominal e sangramentos. O tratamento é sintomático, através de analgésicos e antitérmicos (não utilizar ácido acetilsalicílico ou ibuprofeno, prefira paracetamol e dipirona), além de hidratação e repouso. Para esclarecer dúvidas e trazer informações menos conhecidas sobre a doença, o Criasaude entrevistou o infectologista Dr. Marcelo Cecílio Daher (CRM/GO 7127), médico do programa IST/Aids e hepatites virais, professor universitário da UniEvangélica e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Hidrate-se, mas atenção
A hidratação é crucial no tratamento da dengue, no entanto, o excesso pode ser prejudicial, especialmente para idosos e pessoas com problemas cardíacos. “Sabemos que o tratamento da dengue consiste em medicamentos para aliviar os sintomas e hidratação. No entanto, é necessário cuidado com a quantidade de líquido ingerido, que deve ser ajustada conforme o peso do indivíduo”, afirma o Dr. Marcelo Daher.
Ele destaca a importância de monitorar a cor da urina como indicador de uma hidratação adequada. Urina escura indica a necessidade de mais líquidos, enquanto urina clara sugere que a hidratação está suficiente. “A hidratação venosa, em particular, deve ser sempre supervisionada por um médico, especialmente para pessoas mais velhas e com problemas cardíacos, para evitar complicações graves”, alerta.
Gravidade de sorotipos e reinfecções
A dengue possui cinco sorotipos diferentes (DEN 1, DEN 2, DEN 3, DEN 4, DEN5), o sorotipo DEN2 é o que tende a levar a quadros mais graves da dengue, porém mais que um tipo específico de sorotipo, o que mais aumenta o risco de formas graves da dengue é a reinfecção, ou seja, pegar a dengue mais de uma vez independente do sorotipo, explica o médico.
Imunidade após infecção
Após ser infectada por um dos sorotipos da dengue, a pessoa adquire uma imunidade duradoura para aquele sorotipo específico. “No Brasil, a Dengue 2 é prevalente agora. Quem pega dengue 2 estará protegido por um longo período. Além disso, há uma proteção cruzada para os outros sorotipos que dura cerca de seis meses, o que geralmente impede uma pessoa de contrair dengue mais de uma vez por ano”, esclarece o infectologista.
Vacinação contra dengue
Existem duas principais vacinas contra a dengue disponíveis: Dengvaxia® da Sanofi, indicada apenas para quem já teve dengue, e QDenga® da Takeda, que pode ser utilizada tanto por quem já teve como por quem nunca teve dengue, disponibilizada pelo sistema de saúde público do Brasil (SUS). Sendo que quem já teve dengue terá uma maior proteção com a vacina do que quem nunca teve.
Tempo de espera para a vacinação após contágio
Para quem está com dengue ou teve dengue recentemente, é necessário esperar antes de se vacinar. “A vacina de vírus atenuado exige que se espere pelo menos três meses após a infecção. O Ministério da Saúde recomenda um intervalo de seis meses antes de tomar a segunda dose da vacina, caso a pessoa tenha contraído dengue entre as doses”, orienta o Dr. Marcelo Daher.
Risco de dengue vacinal
Embora raro, existe uma pequena chance de dengue vacinal devido à natureza atenuada do vírus presente na vacina. “A replicação do vírus na vacina é baixa, tornando improvável um quadro severo de dengue. No entanto, atenção especial deve ser dada a pessoas com imunidade comprometida, como aquelas em tratamento para lúpus, artrite reumatoide, câncer, ou vivendo com HIV, para quem a vacinação é contraindicada”, conclui o especialista.
Cuidado coletivo
Com o aumento de casos de dengue e a iminência de grandes eventos internacionais como as Olimpíadas de 2024, é crucial que a população esteja bem-informada sobre prevenção, tratamento e vacinação. A conscientização e a adesão às recomendações médicas são essenciais para controlar a disseminação do vírus e do mosquito da dengue, assim será possível reduzir os casos da doença.
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Redação
Por Adriana Sumi (farmacêutica), 25.06.2024
Bibliografia e referências científicas:
- Mapa da OMS atualizado com casos dos últimos 3 meses, DengueMAP, site acessado pelo Criasaude.com.br em 18 de junho de 2024, link funcionando nesta data
- Jornal francês de grande circulação Le Monde, France sees record number of imported cases of dengue fever, de 18 de junho de 2024