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Síndrome do intestino irritável

Definição

A síndrome do intestino irritável (ou síndrome do cólon irritável) é um transtorno crônico de origem desconhecida que acomete o cólon. A doença não lesiona o cólon, ou seja, não causa inflamação, ulceração, mudanças no tecido do cólon ou aumento do risco do câncer colorretal. Entretanto, os pacientes sofrem de flatulências, diarréias, episódios de constipação, etc.

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A síndrome do intestino irritável é, portanto, um conjunto de alterações gastrointestinais que acontecem em longo prazo, mas que não estão associadas a mudanças bioquímicas ou estruturais conhecidas.

No passado, a síndrome do intestino irritável era considerada mais um problema psicológico. Hoje estima-se que essa é realmente um distúrbio físico.

Esta é uma condição que muda de fase, isto é, que pode haver momentos de crise e remissão.

Vesícula biliar
Alguns médicos, especialmente estadunidenses, levantam a hipótese de que a SII pode ser confundida com a má absorção de ácidos biliares (em inglês: bile acid malabsorption ou BAM)1. Esta má absorção pode ser resultado, por exemplo, na remoção da vesícula biliar ou de outras doenças gastrointestinais, como a doença de Crohn. Em uma forma comum de SII (em inglês: IBS-D, com diarreia), a pesquisa sugere que os sintomas da SII são na verdade causados ​​em 30% dos casos por má absorção de ácidos biliares. Os ácidos biliares são produzidos no fígado e nos ajudam a absorver gorduras (lipídios). A maioria desses ácidos é reabsorvida na parte final do intestino delgado e depois retorna ao fígado. Mas se não forem reabsorvidos adequadamente, espalham-se por todo o cólon e podem irritar o revestimento e causar diarreia.
Nos casos de má absorção de ácidos biliares, a terapia pode ser baseada em colestiramina (em inglês: cholestyramine). Leia também abaixo em Tratamentos

Epidemiologia

Nos Estados Unidos, cerca de 12% da população sofre desta síndrome, de acordo com a Clínica Mayo. Outras fontes, como a revista Prevention, estimam que 10 a 15% dos americanos sofrem desta síndrome.

A síndrome do intestino irritável (SII) afeta principalmente as pessoas com idade inferior a 45 anos. As mulheres são 2 vezes mais afetadas que os homens.

Causas

As causas da síndrome do intestino irritável ainda são desconhecidas, uma vez que o transtorno causa uma série de sintomas muitas vezes antagônicos, como diarréia e constipação. Entretanto, estudos apontam que alguns fatores podem desencadear a doença. Um desses fatores são causas psicoemocionais. De acordo com estudos, cerca de 50% dos pacientes relataram sofrer de um evento emocional estressante ou impactante pouco antes do aparecimento dos primeiros sintomas.

Outros estudos indicam que infecções agudas podem modificar a imunidade do intestino e desencadear a doença. A alimentação também parece ser um dos fatores causadores ou colaboradores para a síndrome. Certos pacientes apresentam piora dos sintomas ao comer determinados alimentos, como leite, chocolate ou condimentos. Nesse sentido, os sintomas da síndrome podem ser facilmente confundidos com os da intolerância à lactose.

A gastroenterite é um dos principais fatores de risco da síndrome do intestino irritável.

Outro fator que parece ser causa da síndrome do intestino irritável é a influencia dos hormônios. Como as mulheres são mais afetadas que os homens, talvez os hormônios femininos desempenhem uma função importante no desencadear dos sintomas.

Estudos têm sido conduzidos para verificar se existe ligação com o sistema imune, ou seja, para verificar se a síndrome do intestino irritável é uma espécie de doença auto-imune ou se algo altera a imunidade desse órgão a ponto de causar mudanças funcionais.

A genética pode desempenhar um papel, como observa a Mayo Clinic. Estudos mostraram que casos da síndrome do intestino irritável na família aumentam o risco para os outros membros da família.

Grupos de risco

Virtualmente, a síndrome do intestino irritável atinge qualquer idade, entretanto, a maior incidência da doença se dá em pacientes com menos de 35 anos de idade.

Outro grupo de risco são as mulheres que, aparentemente, são mais afetadas que os homens. Entretanto, não se sabe se realmente a síndrome atinge mais as mulheres ou se elas são mais diagnosticadas porque vão mais ao médico.

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Estudos apontam que outro grupo de risco são os das pessoas com histórico familiar de casos de síndrome do intestino irritável. Não se sabe ao certo se esse risco é devido a algum fator genético ou se é devido ao compartilhamento do mesmo meio ambiente familiar (tipo de comida ingerida, hábitos diários, nível de estresse, etc).

Sintomas

A síndrome do intestino irritável caracteriza-se por um conjunto de alterações funcionais do cólon que gera diversos sintomas. Grosso modo, a doença pode ser dividida em:

– Predomínio de períodos de constipação (intestino preso);

– Predomínio de diarréia;

– Alternância entre diarréia e constipação.

Dentre esses grupos, os sintomas mais relatados são:

Dor abdominal

– Distensão abdominal

Flatulência

Diarréia ou constipação (normalmente alternadas)

– Presença de muco nas fezes

– Alteração da consistência das fezes

Outros sintomas podem estar presentes como: azia, vômitos, sudorese, incontinência, calafrios, fadiga, etc.

Esses sintomas são devido a alterações no funcionamento do intestino, entretanto, não há alterações teciduais, bioquímicas ou estruturais no aparelho digestório.

Diagnóstico

O diagnóstico da síndrome do intestino irritável é muitas vezes difícil de ser realizado e requer muito tempo, uma vez que a doença se confunde com diversas outras de forma que outras alterações devem ser eliminadas a fim de se fazer o diagnóstico preciso (diagnóstico diferencial). Normalmente o médico começa analisando a história clínica do paciente e os sintomas. Como não há exames físicos específicos para diagnosticar a doença, critérios foram estabelecidos para auxiliar a diagnose. Dois critérios utilizados são o de Manning (de 1978) e de Roma III (de 2006).

Critério de manning

Dor abdominal que é aliviada após a evacuação

– Fezes amolecidas

– Sensação de evacuação incompleta

– Distensão abdominal

– Evacuações freqüentes quando as dores se instalam

– Muco nas fezes

Critério de Roma III

Dor ou desconforto abdominal há, pelo menos, 6 meses e que se manifestaram pelo menos 3 vezes por dia nos últimos 3 meses acompanhada por pelo menos 2 sintomas abaixo:

– Melhora da dor após evacuação

– Alteração da freqüência das evacuações

– Alteração da aparência do bolo fecal (aspecto diarréico ou constipado)

– Presença de muco nas fezes

Além desses critérios, o médico poderá ficar alerta caso o paciente apresente diarréia persistente, sangramento retal, febre, idade abaixo de 50 anos, ser do sexo feminino, flatulência e apresentar perda de peso.

Outros exames complementares podem auxiliar o diagnóstico. Nesse caso, eles servem para excluir a possibilidade de outras doenças, ou seja, fazer o diagnóstico diferencial. Esses exames incluem:

– Sigmoidoscopia: exame que analisa a porção sigmóide do intestino com um tubo flexível.

– Colonoscopia: exame que analisa o cólon.

– Tomografia computadorizada: permite visualizar se há alguma alteração na região pélvica.

– Teste de intolerância a lactose: permite verificar se os sintomas sentidos pelo paciente não são devidos à intolerância à lactose.

– Exames de sangue: permite verificar se o paciente não tem alguma outra doença, como infecção ou doença celíaca.

Complicações

A síndrome do intestino irritável não está associada a severas complicações. Entretanto, os quadros de diarréia e constipação podem desencadear ou agravar sintomas de hemorróida. Além disso, a constante diarréia pode fazer com que o paciente perca peso rapidamente.

Outros impactos da síndrome se dão no campo emocional e psicológico. O medo iminente de uma diarréia pode estressar o paciente e alterar suas atividades diárias, prejudicando sua qualidade de vida e confiabilidade em si mesmo. Além disso, o desconforto abdominal e constipação podem deixar o paciente em um estado de nervosismo e abalar sua estruturar emocionais o que pode, por conseqüência, agravar os sintomas.

Tratamentos

Como a síndrome do intestino irritável tem causas desconhecidas, o tratamento é sintomático, ou seja, visa amenizar os sintomas e desconfortos causados pela doença.

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O bom controle do estresse, alimentar-se mais adequadamente e quaisquer mudanças no estilo de vida já podem proporcionar uma melhora em grande parte desta afecção.

A seguir veja os tratamentos e medicamentos utilizados para tratar essa doença, particularmente se as mudanças no estilo de vida não funcionarem:

– Ingestão de fibras e suplementos alimentares com fibras como psyllium e metilcelulose, para melhorar os sintomas de constipação.
No entanto, algumas fibras insolúveis, como som pode agravar esta síndrome;

– Anticolinérgicos antiespasmódicos, para aliviar os sintomas de cólicas e dores;

– Medicamentos que eliminam os gases, como simeticona;

– Medicamentos anti-diarréicos, como a loperamida;

– Medicação antidepressiva, como os inibidores da recaptura de serotonina (fluoxetina, paroxetina). Esse tipo de medicação é particularmente importante, pois muitos dos pacientes com a síndrome apresentam sintomas de estresse e depressão. Além disso, a medicação ajuda a aliviar a dor. O médico ainda poderá indicar antidepressivos da classe dos tricíclicos (imipramina, amitriptilina).

Além desses, existem 2 medicamentos específicos para a síndrome do intestino irritável:

– Alosentrona: utilizado para relaxar o cólon e retardar o trânsito intestinal. Deve ser utilizado caso os demais tratamentos tenham falhado.

– Lubiprostona: indicado para adultos, esse fármaco é usado para aumentar a secreção de fluídos no intestino delgado, ajudando a passagem do bolo fecal.

– Nos Estados Unidos, desde 2015 o antibiótico rifaximina está disponível no mercado. Este medicamento é indicado principalmente em casos de SII com sintomas de diarreia (IBS-D em Inglês). É importante saber que este medicamento não é absorvido para a circulação sistêmica (geral), mas permanece localizada ao nível do intestino.

– No caso da SII com sintomas de diarreia (IBS-D) os anti-histamínicos podem ajudar, de acordo com pesquisadores belgos. Os pacientes que sofrem de SII com diarreia que tomaram anti-histamínicos por 3 meses tiveram significativamente menos sintomas do que aqueles no grupo controle.

Amitriptilina e síndrome do cólon irritável (estudo)
Em 16 de outubro de 2023, um estudo publicado (DOI:  10.1016/S0140-6736(23)01523-4) revelou que a amitriptilina em baixa dose pode melhorar os sintomas da síndrome do cólon irritável. O estudo mostrou que os pacientes que tomavam amitriptilina eram quase duas vezes mais propensos a relatar uma melhoria geral nos sintomas em comparação com aqueles que tomaram um placebo. Este estudo é baseado no primeiro ensaio controlado randomizado (considerado padrão ouro na medicina) que avaliou a eficácia da amitriptilina em baixa dose em comparação com um comprimido de placebo para o tratamento da síndrome do intestino irritável na atenção primária.

Com vimos no início deste artigo, muitos médicos aconselham alterações na dieta alimentar do paciente para melhorar os sintomas, a dieta Low Fodmap é particularmente recomendada (aprofundar a leitura a seguir).

Dieta “Low Fodmap”

Este dieta de origem australiana consiste em diminuir o consumo de determinados alimentos e aumentar aquele de outros.
O termo Fodmap é um acrônimo que caracteriza diferentes carboidratos, significando: “F” para fermentescíveis, “o” para oligossacarídeos, “d” para dissacarídeos, “m” para monossacarídeos, “a” para and (“e” em inglês) e “p” para polióis.
“Low” em inglês significa “abaixar”, nesta dieta o objetivo é diminuir o aporte desses carboidratos: fermentescíveis, oligossacarídeos,  dissacarídeos, monossacarídeos e polióis, os quais podem provocar flatulência, diarreia ou constipação. Estes açúcares são pouco absorvidos no intestino.

A dieta “Low Fodmap” foi cientificamente aprovada pela sua eficácia.

A diminuir
Alguns alimentos ricos em relação a estes carboidratos (fodmp), tais como alcachofra, cebola, alho, aipo, maçã, manga, pêssego, melancia, feijão preto, sorvetes ou cremes com estes ingredientes devem ser reduzidos.

A aumentar
Em contrapartida, deve ser aumentado o consumo de alimentos pobres no tocante a estes carboidratos, tais como: berinjela, cenoura, broto de soja, alfafa, vagem, morango, banana, uva, laranja, noz-pecã, amendoim, leite ou iogurte sem lactose, determinados queijos (em inglês, os Swiss cheese).

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Dieta cetogênica
Outra dieta que parece eficaz contra a síndrome do intestino irritável é a dieta cetogênica, uma dieta que contém pouco de carboidratos e alto teor de gordura.

Tratamento da má absorção de ácidos biliares
Se a SII for de fato uma má absorção de ácidos biliares (em inglês: bile acid malabsorption ou BAM), por exemplo após a remoção da vesícula biliar2, o tratamento proposto talvez seja baseado em colestiramina (em inglês: cholestyramine). Isto envolverá tomar colestiramina, por exemplo, 30 minutos antes das refeições e 4 vezes ao dia. Existem outras moléculas para tratar a má absorção de ácidos biliares. Basicamente, são medicamentos utilizados contra o excesso de colesterol.

Fitoterapia

Existem plantas medicinais que melhoram os sintomas de dor abdominal, diarréia e constipação da síndrome do intestino irritável.

Infusão de menta– É o caso, sobretudo, da hortelã-pimenta que possui um efeito. É aconselhável consumir 1 a 2 cápsulas (contendo 0,2 ml de óleo essencial de hortelã-pimenta) por dia. É melhor consumir cápsulas com revestimento entérico, pois esta proteção impede a difusão no estômago que pode provocar azia.

Camomila, melissa, valeriana e alecrim também aliviam a dor e ajudam a acalmar.

Mirtilo: auxilia nos sintomas de diarréia.

Frângula, psilo (plantago) e ruibarbo: ajudam nos sintomas da constipação.

Aloe vera: auxilia na irrigação do cólon, afrouxamento e lavagem dos resíduos do sistema digestório.

Alcachofra: pode ter um efeito positivo contra a síndrome do cólon irritado de acordo com um estudo pequeno.

Linhaça, em forma de cápsula.

Açafrão-da-terra (Curcuma aromatica, Curcuma longa), um estudo mostrou uma redução de até 60% dos sintomas da síndrome do intestino irritável. Tome uma cápsula de 300 a 400mg de princípios ativos do açafrão 3 vezes ao dia.

Antes de utilizar qualquer fitoterápico, converse com o médico para saber se você não tem nenhuma contra-indicação.

Dicas

Algumas atitudes podem ser adotadas para amenizar os sintomas ocasionados pela síndrome do intestino irritável:

– Observe se algum tipo de alimento desencadeia os sintomas. Alguns pacientes relatam piora depois de ingerir certos alimentos como condimentos, gorduras, chocolate e leite. Se for esse o seu caso, tente evitá-los ou substituí-los por outros.

– Observe se o seu problema não está relacionado com a ingestão de leite e produtos lácteos. Fale isso ao médico para que ele possa fazer o exame de intolerância à lactose.

– Se você tem diarréia, coma porções menores durante as refeições.

– Incorpore fibras à sua dieta, eles ajudam a limpar o intestino e prevenir os sintomas de constipação e flatulência.

– Beba muito líquido, de preferência água.

– Exercite-se regularmente. O esporte ajuda a aliviar e diminuir os sintomas de estresse e ajuda na movimentação do intestino, reduzindo cólicas e aumentando a mobilidade.

– Use medicamentos anti-diarréia e laxantes com cautela. Eles podem alterar o funcionamento normal do intestino e alterar o tecido ao redor. Converse sempre com o médico para ter as orientações adequadas.

– Busque tratamentos alternativos para controlar o estresse, como hipnose, acupuntura, massagem, relaxamento, ioga e meditaão.

Prevenção

Pouco se sabe sobre as causas exatas da síndrome do intestino irritável, de maneira que as formas de prevenção são pouco desenvolvidas. Entretanto, algumas medidas podem ser adotadas:

– Adote medidas que controlem o estresse. Elas variam desde a prática de atividades físicas até consultas com psicólogos. Muitos pacientes apresentam sintomas da síndrome após períodos estressantes.

– Ingira muitas fibras, advindas de frutas, legumes e cereais integrais. Eles ajudam a limpar o intestino e prevenir constipações.

– Adote dietas mais saudáveis e balanceadas. Evite bebidas alcoólicas e gorduras em excesso.

– Beba muita água.

– Use produtos probióticos.

– Tente comer em horários regulares.

– Exercite-se regularmente. Uma maneira eficaz de reduzir o estresse (uma possível causa dessa síndrome).

Ler igualmente o ponto Tratamentos, no item Dieta “Low Fodmap”

Fontes: 
Mayo Clinic

Redação:
Por Xavier Gruffat (farmacêutico)

Fotos: 
Adobe Stock

Atualização:
21.12.2023

Bibliografia e referências científicas:

  1. Revista estadunidense Prevention, edição de dezembro de 2023
  2. Revista estadunidense Prevention, edição de dezembro de 2023
Observação da redação: este artigo foi modificado em 21.12.2023

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